domingo, outubro 20, 2013

UM OFÍCIO



As calçadas, a sola do sapato. 
As pistas, o carburador. 
Os pensamentos, a pasta de trabalho.
O suor, o terno e a gravata.
A caneta, o contrato.
O telefonema, a proposta.
O aperto de mão, o sorriso estampado.
Argumento, argumento, argumento, convencimento.
Eis o dia de um vendedor de consórcios.

(Lucas Nogueira Garcia)

Uma homenagem ao meu pai. 

terça-feira, outubro 08, 2013

Caminhos tortuosos, becos sem saída, caminhando contra o vento, nadando contra maré, mas sempre tentando...


Ando, ando, tropeço, levanto, ando, tropeço, levanto, ando... Ciclo interminável. Que capacidade de se auto regenerar! Mas até quando toda essa magia vai durar? Até quando a chama vai continuar brilhando? E se nunca houve chama, apenas um ente insistente? O que vai ser dessa vela? Um dia essa cera há de se esgotar. E não é por falta de tentativa... Há quem não está interessado, mas, mesmo não desejando, a sorte procura. Aquele que mais precisa é ignorado, recebe pedras como alimento. E quando está por perto está distante de tudo, pois não há verdade nos relacionamentos. Sorrisos protocolares. Ando, participo, jogo o jogo, tropeço, sinto as dores, levanto... já não há mais ossos na face para serem destroçados. É alucinógeno. A música que toca é alegre, mas a poesia vem do subsolo... A porta está trancada.


FIM... ou não.

terça-feira, setembro 17, 2013

Milhões de Frequências – Entrevista coletiva comigo mesmo.



Minha mente é como um rádio que toca milhões de frequências simultaneamente. Acho que ainda não descobriram o nome científico do meu estado psíquico. Bipolarismo? Longe disso. Loucura? A preguiça de realizar um exame mais detalhado. Ora, eu nunca pensei em suicídio. Faço tudo que um ser humano normal faz. Cá estou eu, saudável, vivo, firme, teimoso, impreciso, indeciso, apaixonado. Acho graça em tudo. Tudo aos meus olhos é digno de atenção, e na maioria das vezes de “mostrar as canjicas”. Eu acho que as pessoas perdem muito tempo julgando e calculando os riscos. É uma desconfiança patológica, um medo paranoico. E com isso o momento se perde, se esvai, fica na lembrança, morre de remorso. Doença! Se isso é bom? Considero-me privilegiado. Ver o mundo de maneira multicolorida não é pra qualquer um. Engana-se quem pensa que isso é fugir dos problemas, ou não vê-los. Isso é uma opção. Tenho consciência das dificuldades, porém deixar se abater por isso é opcional. É claro, nem sempre isso é realizável, mas eu tento.



Às vezes pareço contraditório? Não, eu sou contraditório. Todo mundo é. A diferença é que eu tenho coragem de dizer o que me vêm na cabeça. A grande verdade é que as pessoas não se compreendem. Interpretações são interpretações, e interpretações das interpretações são interpretações das interpretações, a tendência é só piorar. É o grande e desgraçado telefone sem fio. A distorção já começa quando as ideias saem da cabeça e se verbalizam através das palavras ditas. Quem me dera se as palavras fossem suficientes para materializar meus mais longínquos pensamentos. É mais que uma Via Láctea inteira. Se eu já omiti algo? É claro, faço isso o tempo todo. Infelizmente é necessário escolher as pessoas com que se pode ou não conversar. É primordial selecionar aqueles a quem você submeterá suas interpretações para que estes as interpretem. Aqui a frase de Jesus faz muito sentido: “Não dará pérolas aos porcos” (Mateus 7: 6). Essa é a diferença entre ver o mundo de maneira positiva e ser feito de bobo. Entendeu? Ninguém está preocupado em te compreender, ou entender o seu lado. A não ser que esse alguém seja uma pessoa que realmente se importa contigo. Mas até mesmo as pessoas mais superficiais merecem ser ouvidas. De tudo da para se tirar um proveito. É da serpente mais venenosa que se extrai o antídoto do veneno.




Por que não viver tanto o amanhã? Digo-lhe, faça o que tem que fazer, cumpra as suas tarefas, lute pelos seus objetivos, mas não se torne um escravo. Não se submeta. A vida acontece no presente. Faça o caminho ser o próprio prazer da coisa. Obrigações? Tudo bem, é difícil fugir delas no atual estado de coisas. Pois bem, não sofra por elas. Apenas faça o possível. Não se agrida. Faça o que for capaz de fazer, mas faça com paixão. Que seja com amor, que seja de coração. Mas faça, nunca sofra. A sociedade quer te ver sofrendo, agonizando. É assustador alguém que sabe viver desprendido, com as rédeas da própria vida. “É loucura, é descompromisso, é desregramento, é rebeldia...”. Não! É saber viver sem ser alienado. Dói? Sim, eu sei. Incomoda? Sim, eu sei. É tudo o que você gostaria de fazer e não consegue? Sim, eu sei. Por isso eu considero pessoas com alma de artista e espírito livre os verdadeiros heróis. É um ato de coragem viver assim. Tem que bater no peito e levantar a cabeça. Tem que “rir da cara do perigo”. É zombar da ordem. É se desprender dos padrões. É rir de tudo. É respeitar o que "dá na telha"... Enfim, é respirar, apenas. Afinal, assim como na minha cabeça, o mundo é feito de milhões de frequências. São inúmeras vozes aqui e acolá. Mais alguma pergunta? Infinitas...

FIM

domingo, setembro 01, 2013

APENAS O CÉU NOTURNO

Feito olhando para o céu estrelado da janela de um ônibus que passava por uma estrada qualquer entre o Rio de Janeiro e o Espírito Santo.



Olho pro céu e vejo o véu negro da profunda escuridão, 
Olho pro céu e vejo pontos de solidão.
Olho pro céu e vejo o senhor observador do tempo,
Olho pro céu e vejo o passado se perdendo.
Olho pro céu e vejo o heroísmo e os atos de glória,
Olho pro céu e vejo a morada dos deuses de outrora.
Olho pro céu e vejo mil casais apaixonados,
Mas também olho pro céu e vejo muitos corações arrebentados.
Olho pro céu e vejo o que há dentro de mim,
E nem mesmo o céu que vejo pode ser tão grande assim.

(Lucas Nogueira Garcia)


quinta-feira, julho 25, 2013

O BRADO RETUMBANTE



Ouviram do Ipiranga, da Baixada Fluminense, do ABC Paulista, do Triângulo Mineiro, de Coqueiral de Itaparica e de onde mais se pode ouvir alguém neste país, os gritos, cânticos e balas de borracha.

O povo da terra do sol da liberdade (em raios fúlgidos!) escolheu a noite para ser abençoado pela lua (que brilhou nesse instante) e para reivindicar direitos, exigir ética, cobrar transparência, e ser heroico.

Se o penhor dessa igualdade, conseguimos conquistar com braço forte, ah, isso é vandalismo. Desafia o nosso peito a própria morte, o nosso nariz com gás de pimenta, o nosso lombo com a bala de borracha e o nosso punho, erguido, com as algemas.

Se fores gigante pela própria natureza, belo, forte, impávido colosso, jamais pode ter acordado, ou, então, nunca foi gigante. Oh Brasil, teu formoso céu que outrora foste tão risonho e límpido, agora está enevoado pelas brumas do lacrimogêneo.

Tu, que tanto vislumbraste os teus filhos resistindo à luta, agora chora por seus jovens fugindo da ROTAN. Maldita ROTAN! Não deveríamos temer porque te adoramos até na morte, mas ainda não atingimos a insanidade das batalhas.

Se não temos paz no futuro, também não tivemos glórias no passado. São tão verdadeiras quanto os contos da Mamãe Ganso. Para quem ainda não se decidiu, oh, filhos desta mãe gentil, a Terceira Ponte não caiu. Vem pra rua!

FIM!

Se gostou me segue.

terça-feira, abril 30, 2013


O MUNDO NOVO

No princípio tudo era um grande vazio. O “nada” era tão predominante que causava inveja aos grandes desertos e as mais profundas fossas abissais do leito oceânico. Não havia pobreza, pois até para haver isso era necessário haver “algo”. Contudo, todo esse vácuo espiritual, ainda assim, tinha seu lado aproveitável. A tela branca.

A descoberta da aquarela é um acontecimento sem par. É como ter acesso a todas as possibilidades, todos os caminhos, todas as experiências. É um multicolorido de abstrações prováveis. É um cometa que viaja pelo universo contemplando o brilho de todas as estrelas ao mesmo tempo. É também a criança que pula na poça de lama. E em toda essa embriaguês há de ter uma grande consequência. E há.

O choque elétrico faz reverberar dos nervos aos ossos, e quanto mais se avança maior é a intensidade com que a energia frita e torra a carne. Nesse belo quadro não há formas definidas. O que há é um grande emaranhado de filetes tingidos das mais impensáveis cores. E esse caos, eternizado na tela, vai se sobrepondo até o dia em que se há o costume. Tudo é um caos, a ordem floresce do costume a ele. Nada se perde tudo se transforma. A ordem se sobrepõe ao caos em uma simbiose, mas ambos sempre estarão ali como entidades de personalidade própria, distintas.

Passado o baque dos descobrimentos entram em cena as ideias independentes. Tudo é questionamento. Nada faz sentido. E quando faz é verdade absoluta. Esse é o espírito jovem, feroz, ávido por descobertas. Entretanto, cada novidade defronta-se com o bruto preconceito. É a vontade de se autoafirmar. É quando é preciso ter razão. Mas aí o aparente baluarte se revela o mais frágil castelo de cartas. Tudo é desabamento. Tudo é pranto. Os escombros se espalham por toda parte. Tudo é feio. Tudo é desprezível. O ódio se acentua. O caos retorna.

Mas os anjos existem? Sim, eles estão ao nosso lado todos os dias. Pobre de quem não os reconhece. Sua luz nos mostra o caminho onde não há indiferença, cinismo, hipocrisia, idiotice, bestialidade e ignorância. O sorriso volta ao rosto sem que se perceba. Uma alegria toma conta e com o peito queimando de entusiasmo limpa-se tudo que não presta e é prejudicial. Vai tudo para a vala. Toda erva daninha é cortada. O jardim finalmente está belo e repleto de flores, todas selecionadas. Esplendorosas borboletas trazem consigo um colorido harmônico.

Depois de tantas mãos de tinta, depois de se esgotar e levar a exaustão a pobre aquarela, pode-se vislumbrar a tão esperada paisagem. No início tudo era o vazio, depois tudo era o caos. Dele nasceram os primeiros esboços do bem-estar. E quando as coisas pareciam se encaminhar para uma conclusão satisfatória o mundo mergulhou na obscuridade. E tudo isso se mostrou necessário. Afinal, é possível pintar um quadro sem que haja sombras? É o contraste do claro-escuro que faz uma obra ganhar vida. Luz e sombra. É o incremento que faltava. Assim como que para haver “algo” é necessário que haja “nada” também deve existir tristeza para que saibamos o real valor da alegria.

O mundo novo surgiu. E como o sol que nasce no leste ele emergiu de todas essas sobreposições, de todo esse colorido. Nada se perde tudo se transforma. Não se escondem as imagens, elas apenas se sobrepõem. E no fim algo novo e original aparece. Agora esse mundo é uma obra-prima. Contrastes. Imperfeições. Imprecisões. Como é admirável. É belo, mas feio. É harmônico, mas caótico. E quando eu cultivo o jardim só planto as flores selecionadas. Sou indiferente ao que não me serve. O lugar da flor estragada é na fossa, os anjos sabem bem!

FIM

SIGA-ME

sábado, março 09, 2013


Saudades!

Quanta saudade eu sinto! E como isso me acalora o peito. O ar se desprende dos meus pulmões. É o fôlego que jamais volta. Quanta saudade! Não há respiração que revigore. Não há suspiro que me traga de volta. Fico por aqui mesmo. Saudades, saudades, saudades... Talvez eu nunca tenha te deixado... Talvez você nunca tenha me deixado... Mas eu não posso mais te tocar. Já não sou mais o mesmo, você já não existe mais, mas nossa união paira no ar e assim eu lembro para sempre. Havia preocupações, havia medos, houve choro, mas tudo não passava de uma eterna brincadeira! Brincar, sorrir e gargalhar não era desperdiçar o tempo e muito menos pecar. Era viver! E agora? Se preocupar é seriamente! Chorar é de verdade! Ter medo é de um perigo real! Hoje o doce é demais, o leite achocolatado não é mais o ápice do dia e brincar não faz mais sentido. Somos nossos próprios brinquedos! Brincamos de viver todos os dias colocando obrigações à frente de tudo. Sorrimos por protocolo. Esperamos um futuro que não existe.

Decidi que não era isso que eu queria. Me rebelei. Respirei fundo e fiz o caminho de volta. Nadei contra a maré, reencontrei minha infância. E lá estava ela, empoeirada e com muitos centímetros a mais. Mas o sorriso ainda era o mesmo, o jeito de brincar também. Entretanto, seu coração havia mudado. Havia muitas cicatrizes. Sua mente também estava diferente. Aquele brilho pleno havia se transformado em um furacão. As vezes mal era possível distinguir as formas. Mal dava para saber o que era loucura e o que não era. Os ouvidos escutam vozes, mas não há vozes! A boca fala, mas não há quem escute! Os olhos agora são a janela da desconfiança. Já não sei dizer se é para quem está fora ou para quem está dentro. Dúvida cruel... Mas no fim era a mesma infância. E ela estava o tempo todo ali, me esperando e me olhando de dentro do espelho. 

FIM