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UFES E SEUS MITOS
Há quase três anos eu
iniciava minha jornada no meio acadêmico. Como um sonhador eu
acreditava que naquele dia finalmente eu havia alcançado um meio de convivência
dito “ideal”. Passei meus anos de ensino médio acreditando que o dia da
redenção viria. Assim, quando eu descobri minha aprovação para a Universidade
Federal do Espírito Santo, me senti recompensado. É como se finalmente eu
houvesse conseguido um passaporte para o paraíso. Mas por que eu pensava assim?
Por que eu acreditava neste paraíso?
Na minha pobre cabeça
de adolescente eu imaginava que a academia era um lugar de pessoas esclarecidas,
resolvidas, maduras e com certo espírito de respeitabilidade. Eu acreditava
inocentemente estar entrando no nirvana da cortesia. No meu entendimento ali só
conviviam pessoas de espírito elevado e de grande sabedoria. Enganei-me.
Meu primeiro susto se
deu no dia de minha matrícula. Em dado momento de nossa confraternização
algumas pessoas começaram a nos falar sobre os professores que encontraríamos
no decorrer de nossos estudos. Na hora eu me animei. “Nossa, que bom! Vão nos
falar do que os professores irão nos ensinar.”, pensei. Até parece. O que
aconteceu de fato foi que eu tive contato com uma triste prática, mas eu só percebi
seus malefícios há alguns meses.
O que eu conheci
naquela noite foi a arte de falar mal dos outros. Felizmente, se tem um assunto
que entra em meu ouvido e sai pelo outro é este. Enquanto algumas pessoas se
esforçavam por nos “alertar” sobre algumas personalidades eu só pude me
perguntar: “Será que a coisa é tão ruim a este ponto?”. Mas nada do que escutei
naquela noite foi internalizado. São coisas que eu pouco me importo.
Esta foi a primeira
impressão que eu tive: professores tirânicos e alunos insatisfeitos. A verdade
é que as poucas pessoas que tiveram o trabalho de me narrar estas biografias
pouco me transmitiam a credibilidade necessária para que eu os levasse a sério.
Aliás, como dar ouvidos a alguém que te aborda para fofocar? Não dou é claro.
Ligo o famoso “piloto automático”. E em algumas poucas vezes eu me dou à
liberdade de bocejar porque acho engraçado.
Quando meu curso
começou os “conselhos” se intensificaram, agora os alvos eram mais diretos e
conhecidos por nós, calouros. “Quem está dando tal aula para você? Cuidado esse
cara faz isso. Nossa! Esse sujeito costuma ser assim. Ele me ferrou há uns
períodos. Ele tem o hábito de fazer isso e isso com os alunos”. Todos os dias
eram assim. Tamanha era a propaganda que eu acabei acreditando em algumas
coisas. Ora, a universidade era um ambiente inteiramente novo para minha cabeça
de 18 anos. Eu não tinha consciência das coisas que eu estava ouvindo, muito menos
tinha noção da prática horrorosa que eu estava vivenciando.
O primeiro período
terminou e o que ficou em minha mente foram dúvidas. As coisas não batiam. Os
relatos me pareciam exagerados. O que me pareceu engraçado é que algumas
pessoas compraram o discurso que nos era apresentado e os reproduziam. Sim, a
minha forma de ver as coisas e as pessoas é peculiar. Não me importo de ser uma
minoria nesta categoria, pelo contrário, me sinto privilegiado. Acontece que os
tais professores não eram esses monstros. Tive a oportunidade ainda no primeiro
período de conversar com um deles e pude notar a cordialidade que a pessoa me
tratou, algo que foi confirmado posteriormente quando eu convivi de fato com a mesma
em um ambiente de trabalho.
Eu mesmo reproduzi
alguns destes discursos. Mas nunca no tom exagerado da maioria. Na verdade,
minhas queixas SEMPRE foram em relação ao ensino, que é o que me importa. A
troco de quê eu vou perder meus preciosos neurônios julgando o caráter de
alguém que eu não tive a oportunidade conhecer para além de uma sala de aula? Assim criam-se alguns mitos em torno das figuras do corpo docente. Quanto ao
que estudamos? Sim, se você tem uma boa alma provavelmente está se perguntando sobre o
que aprendemos. Existem umas poucas pessoas que de fato querem falar disso. Mas
essas nós contamos nos dedos. É até um momento de alívio quando o assunto na roda
de conversa é este. Aliás, até cerveja, festas e futebol é muito melhor do que
fofoca.
Um ano atrás eu
comecei a me envolver um pouco mais nas questões estudantis. Até aquele momento
eu era só “o aluno”. Minha única preocupação dentro da UFES era o conhecimento.
Nesta experiência eu pude conhecer uma enxurrada de outros estereótipos que até
dado momento eu não sabia que eram estereótipos. “A UFES não está nem aí para os
seus alunos! Os setores administrativos são inatingíveis. Não há diálogo com as
pessoas da gestão da universidade. É impossível conversar com o reitor. Eles
estão pouco se lixando para nós.” Tudo isso eu comprovei empiricamente não ser
verdade. Inclusive em relação ao reitor.
Por que eu resolvi
escrever este texto? Em três anos de academia eu descobri que há um jogo de
intrigas muito grande. Um ressentimento. Um rancor. Algumas pessoas se
decepcionaram por determinadas coisas e sabe-se lá porque disseminaram essas fábulas.
É muito ego para pouco espaço. Não sei, talvez fulano não estudou tudo que
tinha para estudar e para não se sentir a pior pessoa do mundo atribuiu seu
insucesso ao professor. Talvez um sujeito levou uma questão mirabolante demais
as instâncias maiores da universidade e não foi atendido. É claro, não estou
dizendo que tais coisas não acontecem. Existem sim professores que não têm boa
conduta, existem sim funcionários da UFES que não agem de boa conduta, mas
também há alunos que fazem as mesmas coisas.
É complicado para as
pessoas admitirem seus defeitos. Eu sei, é difícil. E talvez jogar o problema
em cima de outrem alivie momentaneamente sua consciência. Entretanto, as coisas
voltam a se repetir. Porque o problema não está fora da pessoa, está nela
mesma. Analise-se. Reflita sobre si próprio. Será que a ideia que você tem de
si não é também um mito? Admita seus limites. Isso é bom. Trabalhe-os.
Tente melhorar. Mas agora, ficar falando mal dos outros não dá. Pelo menos
perto de mim. É uma coisa que eu abomino.
Tive a honra de ser
intitulado da seguinte maneira por esses dias: “Lucas, você é muito bonzinho,
cuidado com isso!”. Não, eu não sou muito bonzinho, e repito o que eu disse: “Eu
tento ser justo!”. Justo ao ponto de ser perfeito? De analisar a situação e ter uma noção completa da realidade? Não, justo ao ponto de dizer “é
assim, mas também assim”. Para que eu vou perder o meu tempo achincalhando os
outros? Para atrair negatividade? Jamais!
A UFES hoje é muito
mais mito do que realidade. Aqueles prédios e salas receberam por anos um
turbilhão de significados, a maioria deles surreal, o que dá ao caminhante desavisado
uma imagem distorcida do que de fato acontece ali. É como caminhar na névoa com
um mapa falsificado, você apenas tem uma ideia do que está ao seu redor, mas
não sabe o que ali ocorre. Se tiver uma verdade nisso tudo (quanto problema
essa palavra traz consigo) é que o defeito e as diferenças existem em todos
lugares. Engana-se quem pensa que há perfeição em algum lugar.
Eu mesmo criei um
mito sobre a UFES. O paraíso das pessoas cordiais. Mas nunca ao ponto de achar
que as pessoas eram anjos! Quando eu pensava nisso tudo imaginava um lugar onde
as pessoas sabiam conviver com as singularidades um dos outros. Isso é surreal.
Pelo menos hoje eu estou desacreditado que num determinado espaço as pessoas
irão conviver todas se respeitando o tempo todo. Quando eu digo respeito eu não
falo de uma associação de “ladies and gentlemen”. Seria tudo muito chato. Eu
digo que haja no mínimo a compreensão pelo semelhante. Mas não. É mais fácil
julgar superficialmente.
A única coisa que eu
posso dizer para você é: Tire as suas próprias conclusões.
Se gostou me segue!