Milhões de Frequências – Entrevista
coletiva comigo mesmo.
Minha mente é como um rádio
que toca milhões de frequências simultaneamente. Acho que ainda não descobriram
o nome científico do meu estado psíquico. Bipolarismo? Longe disso. Loucura? A
preguiça de realizar um exame mais detalhado. Ora, eu nunca pensei em suicídio.
Faço tudo que um ser humano normal faz. Cá estou eu, saudável, vivo, firme,
teimoso, impreciso, indeciso, apaixonado. Acho graça em tudo. Tudo aos meus olhos
é digno de atenção, e na maioria das vezes de “mostrar as canjicas”. Eu acho
que as pessoas perdem muito tempo julgando e calculando os riscos. É uma
desconfiança patológica, um medo paranoico. E com isso o momento se perde, se
esvai, fica na lembrança, morre de remorso. Doença! Se isso é bom? Considero-me
privilegiado. Ver o mundo de maneira multicolorida não é pra qualquer um.
Engana-se quem pensa que isso é fugir dos problemas, ou não vê-los. Isso é uma
opção. Tenho consciência das dificuldades, porém deixar se abater por isso é
opcional. É claro, nem sempre isso é realizável, mas eu tento.
Às vezes pareço
contraditório? Não, eu sou contraditório. Todo mundo é. A diferença é que eu
tenho coragem de dizer o que me vêm na cabeça. A grande verdade é que as
pessoas não se compreendem.
Interpretações são interpretações, e interpretações das interpretações são
interpretações das interpretações, a tendência é só piorar. É o grande e
desgraçado telefone sem fio. A distorção já começa quando as ideias saem da
cabeça e se verbalizam através das palavras ditas. Quem me dera se as palavras
fossem suficientes para materializar meus mais longínquos pensamentos. É mais
que uma Via Láctea inteira. Se eu já omiti algo? É claro, faço isso o tempo
todo. Infelizmente é necessário escolher as pessoas com que se pode ou não
conversar. É primordial selecionar aqueles a quem você submeterá suas
interpretações para que estes as interpretem. Aqui a frase de Jesus faz muito
sentido: “Não dará pérolas aos porcos” (Mateus 7: 6). Essa é a diferença entre
ver o mundo de maneira positiva e ser feito de bobo. Entendeu? Ninguém está
preocupado em te compreender, ou entender o seu lado. A não ser que esse alguém
seja uma pessoa que realmente se importa contigo. Mas até mesmo as pessoas mais
superficiais merecem ser ouvidas. De tudo da para se tirar um proveito. É da
serpente mais venenosa que se extrai o antídoto do veneno.
Por que não viver tanto
o amanhã? Digo-lhe, faça o que tem que fazer, cumpra as suas tarefas, lute pelos
seus objetivos, mas não se torne um escravo. Não se submeta.
A vida acontece no presente. Faça o caminho ser o próprio prazer da coisa.
Obrigações? Tudo bem, é difícil fugir delas no atual estado de coisas. Pois bem,
não sofra por elas. Apenas faça o possível. Não se agrida. Faça o que for capaz
de fazer, mas faça com paixão. Que seja com amor, que seja de coração. Mas
faça, nunca sofra. A sociedade quer te ver sofrendo, agonizando. É assustador
alguém que sabe viver desprendido, com as rédeas da própria vida. “É loucura, é
descompromisso, é desregramento, é rebeldia...”. Não! É saber viver sem ser
alienado. Dói? Sim, eu sei. Incomoda? Sim, eu sei. É tudo o que você gostaria de
fazer e não consegue? Sim, eu sei. Por isso eu considero pessoas com alma de
artista e espírito livre os verdadeiros heróis. É um ato de coragem viver assim.
Tem que bater no peito e levantar a cabeça. Tem que “rir da cara do perigo”. É
zombar da ordem. É se desprender dos padrões. É rir de tudo. É respeitar o que "dá na telha"... Enfim, é respirar, apenas. Afinal, assim como na minha cabeça, o
mundo é feito de milhões de frequências. São inúmeras vozes aqui e acolá. Mais
alguma pergunta? Infinitas...
FIM