terça-feira, dezembro 20, 2011

Um Lugar familiar, mas diferente.


Relato extraído de um diário perdido, no qual não revelarei o nome do autor, para buscar preservar a mensagem entrelaçada no mais profundo de sua narração...

...

A noite parecia muito mais tranqüila que o habitual. No caminho entre o trabalho e minha casa, pouco vi além de ruas e casas que aparentavam não haver residentes ou há muito já adormeciam. Raríssimos foram os momentos em meu percurso em que dividi o asfalto com algum outro carro. O céu naquela noite estava incrivelmente estrelado, não havia sinal algum de nuvens e a lua brilhava gloriosa.



Ao sair de meu trabalho, tive uma estranha sensação de liberdade. Na verdade, não é nada anormal se sentir livre depois de um cansativo dia de trabalho. Entretanto, naquela noite, me sentia como se TODO O PESO DO UNIVERSO tivesse se esvaído no ar, deixando meu corpo em paz. Tinha a sensação de ser um daqueles aventureiros das eras antigas, que desbravavam os confins do mundo em busca de novidade. Assim eu fui para a casa.

Ao sair do carro, minha pele experimentou a mais suave das brisas da noite. É como se mãe lua me acariciasse, querendo me reconfortar. Sempre fui um cara muito paciente, que gostava de gozar dos mais singelos detalhes, amante da natureza e insatisfeito com tudo que era superficial. Sempre esperei, e assim alcançava meus objetivos. Uma vez, quando era adolescente, escutei em uma entrevista na TV, uma banda fazer a seguinte declaração: "A velocidade do caminhar, é resultado da quantidade de passos certos que você dá na vida. Quanto mais rápido você caminha para determinadas coisas, mais de formiguinha seus passos se tornam."

Guardei aquilo para sempre! Já havia conquistado muitas coisas, porém nunca estava satisfeito. Não que isso fosse algo ruim e que me corroia por dentro, isso é coisa para materialistas. Pelo contrário, era isso que me movia como ser humano, a busca eterna pelo mais, pelo saber, pelo crescer. Diferentemente dos muitos de meus colegas de trabalho, eu não queria alcançar um status, ou uma posição onde o retorno financeiro seria consideravelmente favorável. Era um desejo simples, de mostrar para eu mesmo que estava aprendendo e progredindo no que fazia. Não era uma simples escalada profissional, era uma evolução.

Ao chegar a casa, saí do carro e tirei as chaves de dentro de minha maleta de trabalho. Inconscientemente abri a porta e entrei. Após fechar a porta, liguei a luz de minha sala, coloquei a maleta sobre uma das cadeiras da mesa, e sem exitar fui subindo rumo ao meu quarto, que ficava no segundo piso da casa. Preparei-me para o banho...

...

Após sair do banheiro, me sentia tão satisfeito, sem saber o porquê, que nada mais almejava além de dormir. Desliguei as luzes e tranqüilo, deitei em minha cama. Adorava a calmaria da noite. Deitado, tinha a sensação de que não havia mais nada no mundo, a não ser o meu quarto. Era como se todas as mega-cidades poluídas do mundo não existissem, e a paisagem lá fora voltasse a ter a sua forma primitiva, natural. Meus olhos começaram a pesar e...

...

Minha vista estava completamente embaçada e uma luz forte quase me cegava por completo. Tudo era confusão em minha mente. Tive a sensação de ter sido seqüestrado, amarado, vendado, jogado dentro de um furgão e ter despertado em um lugar que não sabia onde era. Aos poucos minha visão ia voltando ao seu estado normal. Percebi que estava deitado não mais em minha cama, mas em um gramado tão fofo quanto. Sentei-me. Não estava entendendo nada. Parecia que estava de ressaca depois esgotar uma garrafa inteira de Red Label. Foi quando eu voltei ao normal e um vento fresco me envolveu.



Percebi que estava no meio de um jardim. Mas não parecia um jardim qualquer. Era uma espécie de ''praça-jardim''. Não havia canteiros, mas sim calçadas onde tranquilamente residiam belíssimas flores e árvores de no máximo dois metros, tão frágeis que seus caules eram mais finos que meu braço. Percebi que vestia uma roupa muito fina, semelhante aquelas utilizadas na Índia.



Fiquei de pé a modo de verificar melhor o lugar onde estava. Naquele momento, incrivelmente não parecia estar desesperado por não estar em meu quarto deitado em minha cama. Estranhamente, me sentia em casa. Aos poucos foi ficando mais claro o que observava e mais detalhes surgiam. Percebi que a ''praça-jardim'' simulava uma floresta em miniatura com pequenas, porém complexas, ruelas que eram delineadas pelas calçadas de flores.

Tentei aguçar mais minha visão e me assustei. O jardim se situava em uma espécie de platô, semelhante aqueles de ruínas maias, porém muito mais alto. E mais assustador que isso, era A FLORESTA ao redor do platô. O jardim era suspenso em meio a uma floresta enorme, muito maior do que qualquer outra que conhecia, a ponto de haver árvores que se estendiam a alturas bem superiores a do jardim. Lá embaixo, bem lá embaixo mesmo, corria um poderoso e caudaloso rio dourado formado a partir de uma cachoeira, que rumava tão longe rumo ao horizonte, que se perdia em meio as árvores a distância. Era uma espécie de jardim maia-babilônico bem no meio de uma floresta indescritível. Talvez, nem com mil livros seria capaz de fazer uma descrição fiel do que via.



Voltei minha visão para o jardim, pequenos animais, como esquilos, coelhos, gatos e belos passarinhos preenchiam o lugar de vida. Algumas estátuas de seres de quatro braços surgiam em meio às flores. Seriam as divindades hindus? Percebi que ao redor do jardim havia duas paredes. O jardim visto de cima tinha uma forma retangular (30 metros de lado e 15 de fundo) e tais paredes se erguiam a seis metros de altura em seus lados menores. Na parede norte, que tinha o formato de uma casa, assim como a outra, havia uma grande porta, que estava fechada. Assim como a parede, a porta também era feita de madeira. A parede oposta tinha o mesmo tamanho, com a diferença de estar TODA ornamentada de flores e não haver nem porta nem janela. O estranho é que tais paredes pareciam não ter serventia, já que as laterais de lado maior do jardim eram abertas. Uma madeira ligava as duas paredes pelo alto, onde pendiam luminárias.

O sol que iluminava o jardim era um sol das sete da manhã, e não parecia mudar. O clima era tão fresco, que tinha a sensação de estar sempre ''de banho tomado''. Aos poucos minha mente ia se adaptando ao que via, como se despertasse de um transe, foi então que avistei as primeiras pessoas. Na verdade, quero dizer, mulheres. Vi três belas jovens vestindo cada uma, uma roupa de cor diferente. Azul celeste, verde e vermelho. Elas olharam para mim sorrindo, e mais nada fizeram. Pareciam inertes, como se fossem simples planos de fundo do que via.

Caminhei pelas ruelas do jardim e percebi enquanto pegava algumas romãs para comer que a gravidade onde estava era muito mais fraca. Porém, isso parecia não me assustar. Era como se tudo aquilo, que era novo, também fosse familiar. Era como estar em um lugar onde tudo era paz. E nada era melhor. E foi caminhando pelas ruelas do jardim, que descobri que no canto sudoeste havia uma casa de madeira. Havia muitos jarros de flores, pássaros cantando nas telhas. Então, resolvi entrar. Na porta da casa encontrei um senhor, que parecia ser chinês, e tinha uma expressão de seriedade, digna dos mestres orientais, sentado em uma cadeira. Ele olhou para mim. Pela primeira vez naquele lugar tive a sensação de não estar sozinho. Ele me olhava, como que esperasse alguma atitude. Foi então, que ele me falou:

- Não entre aí. Disse ele sem mudar sua expressão.



Eu não respondi. Simplesmente olhei para ele e assenti. Depois entrei. Aconteceu que ao colocar meus pés dentro da casa, minha cabeça se encheu de uma energia muito densa. Senti como se me enchesse de sabedoria. Porém, isso quase me fez cair no chão. Meu corpo parecia não estar preparado para aquilo. Foi então que dei mais alguns passos casa adentro. Fiquei em transe como se estivesse embriagado. Tudo girava em minha visão. No centro da casa encontrei uma porta que não hesitei em abrir e entrar. Encontrei uma escada que descia para uma escuridão. Desci. Ao chegar ao nível inferior, luzes se acenderam e eu encontrei mais uma porta, que entrei. Outra escada, agora para cima. Outra porta, outra escada, outra porta, outra escada...

Foi quando senti algo MUITO estranho. Minha visão escureceu. Senti-me sendo puxado por uma força poderosa, e quando me vi, estava caído mais uma vez no meio do jardim. Havia anoitecido e as luminárias estavam acesas. Olhei para o horizonte, para a floresta na noite e percebi que havia vários pontos acesos. Eram outros jardins semelhantes ao que estava. Senti uma agitação no ar. Parecia que algo estava prestes a acontecer. Vários pássaros e abelhas voavam por cima do jardim. Havia várias mulheres enfileiradas próximas a parede sul de flores, entoando um cântico que eu não compreendia.

Eis que o senhor oriental apareceu ao meu lado. Tocou-me no ombro e disse:

- Você tem que tomar uma decisão. Disse o homem esperando que eu fosse imediato.

Ouvindo isso, parecia que não mais controlava minhas ações. Tudo era caótico. Levantei-me e corri rumo à parede norte. Olhei para a grande porta e gritei:

- Abra.

Ela começou a se abrir. As mulheres que antes cantavam, agora gritavam em tom de comemoração. Os pássaros e abelhas que sobrevoavam o jardim começaram a se retirar pela porta em uma velocidade aterrorizante. Foi então que...

...

Abri os olhos e percebi que já havia amanhecido.



LUCAS NOGUEIRA GARCIA



OBRIGADO PELA LEITURA. SE GOSTAR ME SIGA.

sábado, dezembro 17, 2011

O Resistir da Mudança

O Resistir da Mudança




Parte de mim ainda resiste,
de onde só se pode encontrar,
entre estrelas dos antigos,
palco do primeiro ordenar.

O resistir é intocável,
inacessível, inacabado.
É o que dá sentido a vida,
o ofício do admirável.

É trabalhando a resistência,
que construo o saber,
essência eterna, perseguida,
o dom da vida, o conhecer.



Parte de mim na ida e vinda,
cobra a certa atitude,
a resistência torna eterna,
a santa e completa virtude.

Estudando este caminho,
salto pedras, venço precipícios,
de tudo que não me agrega,
não guardo nenhum resquício.



Este é o ouro da alquimia,
parte do meu refúgio,
onde alcanço as estrelas,
me protejo do dilúvio.

Tempestade que destrói,
e onde é fácil se molhar,
largo mão da normalidade,
superficialidade de um só olhar.

Trabalhar com o primitivo,
é um templo a construir,
rochas primeiras de toda essência,
o segredo do resistir.



O segredo que é segredo,
brilho que ilumina,
o sol, a lua e as estrelas,
Prática divina.

Tornando concreta a promessa,
a paz eu vou buscar, 
o universo que eu prezo,
irá me recompensar.



Lucas Nogueira Garcia

OBRIGADO PELA LEITURA. SE GOSTOU ME SIGA.

quinta-feira, julho 21, 2011

Contos desconexos... Zabulão e as quatro estrelas...

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Zabulão, o viajante, andava por entre as árvores de um bosque e seguia uma trilha rumo a cidade Luz. Nunca parava mais que dois dias no mesmo lugar. Mas desta vez, seria diferente. Zabulão estava decidido que havia chegado a hora. Durante os muitos anos de andanças e experiências, o viajante exercera inúmeros ofícios. Fora pescador, pastor, carpinteiro e pedreiro, dentre muitos outros pequenos serviços. Porém, agora o único desejo que o movia, era a esperança de chegar à cidade Luz, lá fixar moradia e se tornar médico. Zabulão ao longo de sua vida havia observado o quanto às pessoas necessitavam de amparo. Recusava a aceitar que o mundo estava perdido.

Apesar da determinação de Zabulão, este temia não conseguir chegar a cidade Luz. Muito era dito sobre esta cidade. Apesar de ser sempre mencionada de forma positiva, poucos almejavam lá morar. E para piorar, poucos conseguiam lá morar. Os administradores da cidade eram muito rígidos quanto a isso. Somente pessoas consideradas de bom espírito, poderiam residir em Luz. Mas o que seria um bom espírito? O que determinaria que uma pessoa tivesse bom espírito? Essa era uma resposta que Zabulão buscava havia muito tempo.

Em suas viagens, conheceu diversas culturas, diferentes pontos de vista. O viajante muito aprendeu, porém o que lhe faltava era a compreensão. Nem sempre todo o conhecimento é capaz de responder todas as questões. E isso fazia com que zabulão se sentisse melancólico. Porém nunca perdia as esperanças. Independente se estava pronto ou não, seguia em frente. A tarefa poderia ser impossível, mas ele iria de encontro a ela mesmo assim.



Por entre as árvores refletia Zabulão, olhava os esquilos e ouvia os pássaros cantar, quando der repente surge à sua frente uma névoa de cor lilás com pequenos pontos brilhantes. Zabulão quase caiu ao saltar para trás de susto. Jamais vira algo tão magnífico. Não sabia se sentia medo ou admiração. De dentro desta maravilha, surgiu uma figura feminina. Seus cabelos eram amarrados em trança única e sua cor era castanha. Possuía uma pele morena como a das mulheres que havia visto na Índia. Era muito bela. Suas vestes possuíam as mesmas cores da névoa.

Zabulão perguntou:
- Quem és tu, miraculosa mulher?
- Cosmos, o espírito do universo. Respondeu gentilmente a mulher.
- O espírito do universo?
- Sim! Sou a força oculta do espaço.
- E por que vieste até mim?
- Venho lhe alertar sobre o seu caminho até Luz. Determinou ela enquanto de seu corpo emanava filetes de energia.
- E o que tens de conselho? Indagou mais uma vez Zabulão.
- A muito tens buscado as respostas. Eis que ainda hoje, quatro estrelas o procurarão. Cada uma delas lhe oferecerá três virtudes. São essas três virtudes que irão determinar o que é o espírito bom. No total, serão doze as virtudes, porém, só poderás escolher três. Mas não se esqueça, nem mesmo as estrelas serão capazes de lhe dar as respostas que precisa, pois elas estão dentro de você.



Quando Zabulão se preparava para questionar mais uma vez o espírito, ele sumiu. O viajante não conseguia crer no que acabara de ver. Era impossível. Pensou por um momento estar sonhando, quando observou algo no chão exatamente no mesmo lugar onde Cosmos havia aparecido. Era um amuleto de ouro. Tinha a forma de uma rosa onde se podiam ler as seguintes inscrições: "Sempre estarei contigo". Tratou logo de colocar no pescoço. Ao entrar em contato com o corpo de Zabulão, o amuleto reluziu em um brilho cósmico. O viajante logo percebeu que não havia sonhado. Chegou a sentir certo conforto pelo encontro que a pouco tinha lhe ocorrido. Entretanto, algo lhe surgiu em meio aos seus pensamentos. "Virtudes? Três e doze? Quatro estrelas? Eu escolher?". Zabulão sentiu um calafrio. Não imaginava algo parecido. Jamais vira fenômeno tão maravilhoso. Não entendia mais nada. Seu mundo sempre fora real demais. Concreto e exato. Era difícil aceitar aquilo tudo. "O viajante muito aprendeu, porém o que lhe faltava era a compreensão."



Continuou andando pelo bosque, rumo a cidade Luz. Passou por uma macieira e provou de uma maçã. Este contato com a natureza era algo que ele muito prezava. Sentiu sede no exato momento em que atravessava um riacho. Ao se abaixar para beber, mais um susto. Repentinamente surge das águas um ser brilhante. Outra mulher. Ao se recuperar pode observar mais atentamente. Tinha cabelos castanhos, encaracolados, olhos cor de mel e pele latina. Suas vestes eram azuis. Possuía uma beleza que remetia a pureza. Zabulão, já previamente alerta, deduziu ser ela uma das estrelas que Cosmos havia lhe dito.

- É uma das estrelas? Quis saber o viajante.
- Sim, eu sou. Respondeu com um sorriso acolhedor no rosto.
- E quem serias tu?
- Eu sou Pérola, a estrela das águas, rainha dos sentimentos.
- E o que me traz?
- Em primeiro lugar, caro Zabulão, venho lhe aconselhar para que você escute mais seu coração e sua imaginação, porém nunca os deixe te levar para o lado negativo.
- Confesso Pérola, que tenho dificuldades em acreditar nessas coisas. Para mim, o que vejo e escuto são muito mais confiáveis do que o que sinto.
- Zabulão, escute. Não estou lhe pedindo que se torne um total sentimental. Só lhe peço que dê mais credibilidade ao que sente.
- Tentarei Estrela.
- Em segundo lugar lhe trago algumas virtudes.
- E quais são?
- Sentimento, intensidade e sensibilidade.
- E o que faço com elas?



A estrela sumiu... Para surpresa de Zabulão, o amuleto pendurado em seu peito começou a vibrar e palpitar reluzindo um brilho azul. Eis que surgiu então de dentro da rosa, na parte superior da jóia, um tridente, símbolo de Netuno, senhor da águas. Sem entender, o viajante bebeu sua água e seguiu caminho. O bosque agora já era uma floresta. Passou por uma zona escura, onde o silêncio era terrivelmente sepulcral. Zabulão sentiu um calafrio. Do chão, uma leve cortina de poeira escondia o terreno. Subitamente e sem saber o motivo, Zabulão estacou. Foi quando a poeira começou a se agitar. Surpreendentemente ela se transformou em um redemoinho e parecia querer atacá-lo, pois ia a sua direção. Chegando já a dois metros de distância, a poeira se condensou e de lá surgiu uma mulher de baixa estatura, brilhante, cabelos castanhos escuros, lisos, com rosto delicado, branca como as germânicas e de vestes verde. Sua beleza remetia a juventude. Sem esperar qualquer manifestação de Zabulão se apresentou:

- Sou Safira, estrela da terra, rainha das sensações. Respondeu com um olhar sério, mas ainda assim bondoso.
- O que me aconselha?
- Tenho observado que és demais racional. Peço que você seja um pouco menos. A razão é um presente, mas em demasia, pode ser prejudicial.
- Ficarei atento quanto a isso. E as virtudes?
- Calma razão/crítica e persistência.



Como Zabulão esperava, a estrela foi embora. O viajante ainda não tinha conseguido compreender como conseguiria acertar o que era um bom espírito juntando três virtudes. Não fazia idéia de como formaria o tal bom espírito. O amuleto voltou a palpitar e brilhar em tons de verde. Ao redor das pétalas surgiu uma camada de esmeraldas, símbolo maior de Gaia, a mãe Terra.

Zabulão respirou fundo, levantou a cabeça e prosseguiu. Ao sair da zona escura da floresta, já começava a escurecer. Ele passava por um campo semi-aberto, quando viu uma grande águia em um galho de uma árvore. Logo ele começou a correr, pois o bicho partiu pra cima do pobre viajante. O animal, bem mais ágil que ele, pousou suas patas em seus ombros, o desequilibrando em plena corrida. Após cair no chão, desesperadamente tentou se virar para encarar seu adversário de frente. Porém a águia estava parada no chão bem a sua frente. Em um movimento sincronizado, o bicho abriu as asas e se escondeu com elas, fechando-as. Um brilho cinza envolveu o animal o transformando em uma figura disforme. A figura cresceu até atingir o tamanho de uma pessoa adulta. Em uma explosão de raios, surgi uma mulher. Zabulão estava de olhos arregalados pensando: "Isso que é uma entrada triunfal". A mulher tinha cabelos curtos, encaracolados, louros, rosto determinante, vestes cinza. Sua beleza transmitia firmeza. E como as outras, brilhava.

- Suponho que seja as estrela do ar. Arriscou.
- Sim, sou a estrela do ar, rainha dos pensamentos e me chamo Ônix. Disse bem humorada.
- O que me aconselha? Perguntou retribuindo o sorriso.
- Peço que equilibre mais as coisas, use mais a imaginação e jamais se disperse
- Estou realmente, Ônix, precisando ser mais equilibrado.
- As virtudes que lhe trago são: Movimento, equilíbrio e criatividade.



Como de costume, o amuleto se envolveu em um brilho, agora cinza, palpitava e tremia. Nas laterais do amuleto surgiram asas, alto símbolo da interação entre os animais e o ar.

Zabulão continuava andando e pensando. Os acontecimentos pelos quais havia passado começavam a ter certo sentido, porém, ele ainda não conseguia juntar o quebra-cabeças. Faltava-lhe a compreensão.

Quando Zabulão retornou a realidade, já havia escurecido. Ele andava por um campo e acabou presumindo que seria muito perigoso ficar exposto ao ar livre. Em suas incontáveis viagens por este mundo a fora, vivenciou muitos perigos que com toda certeza, preencheriam vários volumes de livros de aventura. Tentou, mesmo na escuridão, observar se havia um lugar mais seguro para passar a noite. Vislumbrou uma caverna, no alto de uma pequena colina. Lá chegando, tratou de acender uma fogueira. Tirou alguns viveres de uma bolsa que trazia pendurada as costas. Dentre as opções, escolheu uma batata para assar. A colocou em um graveto e se preparou para lançá-la às chamas. Antes mesmo de completar o movimento, sentiu um grande onda de calor originada da fogueira. Já esperando a próxima estrela, o viajante se pôs de pé, se afastando lentamente de costas da fogueira. O fogo aumentou terrivelmente de tamanho e Zabulão chegou a pensar que não era uma estrela e que ele deveria correr. Quando começou a tropeçar os primeiros passos da corrida surge a última estrela. Cabelos cacheados, castanho escuro, pele negra, traços delicados, veste vermelha. Sua beleza remetia a sinceridade. O brilho que antes era transmitido pelas chamas, vinha de sua áurea.

- Eu sou Rubi, estrela das chamas, rainha da intuição.
- Bela estrela, o que me aconselha?
- Meu conselho é breve. Use seu lado racional para ser mais objetivo, bom Zabulão. Respondeu com um olhar sincero.
- Você acha que eu dificulto muito as coisas, Rubi?
- Sim, tente ser mais ativo.
- Vou tentar. E Quais são as virtudes?
- Ação, honra e objetividade.



A última metamorfose do amuleto não tardou a acontecer. No centro da rosa surgiu em meio a um brilho vermelho, uma pedra de rubi, representando assim, o fogo transformador. Depois deste dia inesquecível, o viajante foi dormir. Escolheu um canto da caverna onde tinha um amontoado de folhas secas que lhe serviriam de cama. Mal se encostou às folhas, começou a roncar alto. Então Zabulão pôs-se a sonhar.

"Estava ele andando num deserto, quando um raio de sol lhe atingiu o peito. Caiu na areia e rolou duna abaixo. Ao levantar a cabeça que girava de tontura, vislumbrou uma figura disforme que brilhava em tons de laranja. Literalmente era uma figura sem forma definida. Era uma espécie de energia alaranjada.

- Quem és tu? Perguntou Zabulão com a voz tremula e sofrida com a dor da queda.
- O Sol!
- Não é possível! O Sol?
- Não pergunte mais nada e só escute!
Zabulão estremeceu por inteiro.
- Doze quartos possui uma casa. Três destes quartos são os principais. Mas sem os nove restantes, ela não se sustenta.
O viajante escutava intrigado.
- Se conhecer a sua casa e souber medir a importância que cada quarto tem, chegarás a Luz.
- Como? Disparou o pobre Zabulão.

A figura sumiu..."



Como em um piscar de luzes, Zabulão acorda. Espantou-se em saber que já era dia. "Que sonho maluco".

Levantou e foi a um rio próximo se lavar. Ao terminar voltou a caverna arrumou suas coisas, comeu uma maça e seguiu caminho rumo a Luz. Faltava pouco e não tardou que ele chegasse às proximidades da cidade.



Luz tinha muros altos, de pedras brancas, algumas altas edificações e uma torre central. Chegando ao portão se surpreendeu quando uma figura de armadura abriu o portão e veio correndo em sua direção. Estacou bem a sua frente.

- Zabulão, és tu? Perguntou animado o soldado.
- Sim, mas como sabes?
- Estamos a sua espera.
- Estamos?
- Venha, os cinco juízes estão esperando sua pessoa para lhe avaliar.
- Mas já?
- Sempre esteve pronto. Mas agora consciente.

Não entendendo como, mas o comentário fez sentido. Logo que se colocou a disposição do soldado rumo aos juízes, descobriu que não poderia ver o interior da cidade antes de ser avaliado. O homem prateado o conduziu até uma abertura na lateral do muro. Um túnel subterrâneo se abriu e eles rumaram por um longo corredor. Depois de uns 5 minutos de caminhada chegaram diante de uma porta que para surpresa de Zabulão, possuía o mesmo símbolo de seu amuleto. Uma rosa, um tridente, esmeraldas, um rubi e asas.

- Entre! Ordenou o soldado.
Zabulão obedeceu.



Entrou. Só escuridão. A porta se fechou atrás dele sozinha. "Lugar errado?". Uma vela se acendeu.

- Não, lugar certo, nobre Zabulão.

Der repente outras quatro velas se acenderam e ele pode observar em uma mesa, o cinco juízes. Todo vestidos sob mantas de monge, com seus rostos totalmente encobertos. Porém a voz que lhe chamou não vinha daquela direção. Vinha de todas as partes. A voz tornou a se comunicar:

- Zabulão, lhe farei algumas perguntas. Ao final, os juízes darão o veredicto.
O viajante fez que sim com a cabeça.
- Qual é sua maior virtude? Por quê?
- A persistência. Porque tenho razão do que quero e tenho uma honra a cumprir.
- Qual sua pior virtude? Por quê?
- A intensidade. Porque não me permite ter equilíbrio e a sensibilidade das situações.
- Qual virtude deseja para ti?
- Calma. Porque somente assim poderei agir também com o sentimento.
- E como pretende alcançar tal virtude?
- Sendo mais objetivo, criativo e maleável.
- E então juízes? Perguntou a voz se virando para as cinco figuras da mesa.

Os cinco fizeram com a mão o sinal positivo. A voz então disse:

- Seja bem-vindo a cidade Luz, cidadão Zabulão. Comemorou a voz.
- Como assim? E o espírito bom? As três virtudes.
- Leia a inscrição em seu amuleto.
- "Estarei sempre contigo".

Enfim Zabulão compreendeu.

- Sim! A casa. Conhece tua casa. Três quartos.

Zabulão se lembrara de que seu nome significava casa. A voz lhe explicou:

- O "Espírito Bom" é todo aquele capaz de desvendar os mistérios do universo. Lembra da velha frase? "Conhece a ti mesmo e desvendarás os mistérios do universo". Você provou que conhece não só suas três virtudes (Persistência/Razão/Honra), como os seus defeitos (Intensidade/Falta de Equilíbrio/Falta de sensibilidade), suas ambições (Calma/Ação/Sentimento) e como deve buscar elas (Objetividade/Criatividade/Movimento). Cosmos lhe disse no bosque que as estrelas não lhe dariam todas as respostas, mas não disse que não dariam nenhuma. Como sabe, todas elas lhe deram orientações. E você como um ser que se conhece bem, as utilizou da melhor maneira que se encaixasse a você, como foi possível ver em suas respostas. Daremos-lhe agora as chaves de sua residência.

Zabulão já chorava.



Numa ação conjunta, todos os juízes tiraram suas mantas e o viajante percebeu quem eram. Cosmos, Pérola, Safira, ônix e Rubi. As belas estrelas e espírito sorriam para Zabulão como se dissessem: "Está vendo?". Der repente um calor surgiu ao redor de Zabulão e novamente a figura disforme apareceu. Era a voz que o indagava.

- Sol?
- Sim! Fique parado.

Repentinamente, parte de sua energia alaranjada rumou como um raio de sol em direção ao peito de Zabulão. Assim como no sonho. Ela se encontrou com o amuleto e com ele se envolveu. Um brilho forte surgiu e invadiu totalmente o recinto onde se encontravam. O viajante pensou ter ficado cego. Quando abriu os olhos se viu no topo da torre com o espírito, as estrelas e o sol. Algo vibrou em seu peito. Notou então, que o amuleto havia se transformado em uma estrela de cinco pontas, símbolo da iluminação. As chaves!



Enfim, O Nobre viajante completava sua missão. Então o sol lhe disse:

- Será o médico. Dou-te como nobre tarefa, levar estes ensinamentos as pessoas. Realmente o mundo não está perdido. Somente desorientado. Um dia, todos residirão conosco, na Luz...

LUCAS NOGUEIRA GARCIA

(DESCULPEM POSSÍVEIS ERROS)

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