quinta-feira, julho 21, 2011

Contos desconexos... Zabulão e as quatro estrelas...

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Zabulão, o viajante, andava por entre as árvores de um bosque e seguia uma trilha rumo a cidade Luz. Nunca parava mais que dois dias no mesmo lugar. Mas desta vez, seria diferente. Zabulão estava decidido que havia chegado a hora. Durante os muitos anos de andanças e experiências, o viajante exercera inúmeros ofícios. Fora pescador, pastor, carpinteiro e pedreiro, dentre muitos outros pequenos serviços. Porém, agora o único desejo que o movia, era a esperança de chegar à cidade Luz, lá fixar moradia e se tornar médico. Zabulão ao longo de sua vida havia observado o quanto às pessoas necessitavam de amparo. Recusava a aceitar que o mundo estava perdido.

Apesar da determinação de Zabulão, este temia não conseguir chegar a cidade Luz. Muito era dito sobre esta cidade. Apesar de ser sempre mencionada de forma positiva, poucos almejavam lá morar. E para piorar, poucos conseguiam lá morar. Os administradores da cidade eram muito rígidos quanto a isso. Somente pessoas consideradas de bom espírito, poderiam residir em Luz. Mas o que seria um bom espírito? O que determinaria que uma pessoa tivesse bom espírito? Essa era uma resposta que Zabulão buscava havia muito tempo.

Em suas viagens, conheceu diversas culturas, diferentes pontos de vista. O viajante muito aprendeu, porém o que lhe faltava era a compreensão. Nem sempre todo o conhecimento é capaz de responder todas as questões. E isso fazia com que zabulão se sentisse melancólico. Porém nunca perdia as esperanças. Independente se estava pronto ou não, seguia em frente. A tarefa poderia ser impossível, mas ele iria de encontro a ela mesmo assim.



Por entre as árvores refletia Zabulão, olhava os esquilos e ouvia os pássaros cantar, quando der repente surge à sua frente uma névoa de cor lilás com pequenos pontos brilhantes. Zabulão quase caiu ao saltar para trás de susto. Jamais vira algo tão magnífico. Não sabia se sentia medo ou admiração. De dentro desta maravilha, surgiu uma figura feminina. Seus cabelos eram amarrados em trança única e sua cor era castanha. Possuía uma pele morena como a das mulheres que havia visto na Índia. Era muito bela. Suas vestes possuíam as mesmas cores da névoa.

Zabulão perguntou:
- Quem és tu, miraculosa mulher?
- Cosmos, o espírito do universo. Respondeu gentilmente a mulher.
- O espírito do universo?
- Sim! Sou a força oculta do espaço.
- E por que vieste até mim?
- Venho lhe alertar sobre o seu caminho até Luz. Determinou ela enquanto de seu corpo emanava filetes de energia.
- E o que tens de conselho? Indagou mais uma vez Zabulão.
- A muito tens buscado as respostas. Eis que ainda hoje, quatro estrelas o procurarão. Cada uma delas lhe oferecerá três virtudes. São essas três virtudes que irão determinar o que é o espírito bom. No total, serão doze as virtudes, porém, só poderás escolher três. Mas não se esqueça, nem mesmo as estrelas serão capazes de lhe dar as respostas que precisa, pois elas estão dentro de você.



Quando Zabulão se preparava para questionar mais uma vez o espírito, ele sumiu. O viajante não conseguia crer no que acabara de ver. Era impossível. Pensou por um momento estar sonhando, quando observou algo no chão exatamente no mesmo lugar onde Cosmos havia aparecido. Era um amuleto de ouro. Tinha a forma de uma rosa onde se podiam ler as seguintes inscrições: "Sempre estarei contigo". Tratou logo de colocar no pescoço. Ao entrar em contato com o corpo de Zabulão, o amuleto reluziu em um brilho cósmico. O viajante logo percebeu que não havia sonhado. Chegou a sentir certo conforto pelo encontro que a pouco tinha lhe ocorrido. Entretanto, algo lhe surgiu em meio aos seus pensamentos. "Virtudes? Três e doze? Quatro estrelas? Eu escolher?". Zabulão sentiu um calafrio. Não imaginava algo parecido. Jamais vira fenômeno tão maravilhoso. Não entendia mais nada. Seu mundo sempre fora real demais. Concreto e exato. Era difícil aceitar aquilo tudo. "O viajante muito aprendeu, porém o que lhe faltava era a compreensão."



Continuou andando pelo bosque, rumo a cidade Luz. Passou por uma macieira e provou de uma maçã. Este contato com a natureza era algo que ele muito prezava. Sentiu sede no exato momento em que atravessava um riacho. Ao se abaixar para beber, mais um susto. Repentinamente surge das águas um ser brilhante. Outra mulher. Ao se recuperar pode observar mais atentamente. Tinha cabelos castanhos, encaracolados, olhos cor de mel e pele latina. Suas vestes eram azuis. Possuía uma beleza que remetia a pureza. Zabulão, já previamente alerta, deduziu ser ela uma das estrelas que Cosmos havia lhe dito.

- É uma das estrelas? Quis saber o viajante.
- Sim, eu sou. Respondeu com um sorriso acolhedor no rosto.
- E quem serias tu?
- Eu sou Pérola, a estrela das águas, rainha dos sentimentos.
- E o que me traz?
- Em primeiro lugar, caro Zabulão, venho lhe aconselhar para que você escute mais seu coração e sua imaginação, porém nunca os deixe te levar para o lado negativo.
- Confesso Pérola, que tenho dificuldades em acreditar nessas coisas. Para mim, o que vejo e escuto são muito mais confiáveis do que o que sinto.
- Zabulão, escute. Não estou lhe pedindo que se torne um total sentimental. Só lhe peço que dê mais credibilidade ao que sente.
- Tentarei Estrela.
- Em segundo lugar lhe trago algumas virtudes.
- E quais são?
- Sentimento, intensidade e sensibilidade.
- E o que faço com elas?



A estrela sumiu... Para surpresa de Zabulão, o amuleto pendurado em seu peito começou a vibrar e palpitar reluzindo um brilho azul. Eis que surgiu então de dentro da rosa, na parte superior da jóia, um tridente, símbolo de Netuno, senhor da águas. Sem entender, o viajante bebeu sua água e seguiu caminho. O bosque agora já era uma floresta. Passou por uma zona escura, onde o silêncio era terrivelmente sepulcral. Zabulão sentiu um calafrio. Do chão, uma leve cortina de poeira escondia o terreno. Subitamente e sem saber o motivo, Zabulão estacou. Foi quando a poeira começou a se agitar. Surpreendentemente ela se transformou em um redemoinho e parecia querer atacá-lo, pois ia a sua direção. Chegando já a dois metros de distância, a poeira se condensou e de lá surgiu uma mulher de baixa estatura, brilhante, cabelos castanhos escuros, lisos, com rosto delicado, branca como as germânicas e de vestes verde. Sua beleza remetia a juventude. Sem esperar qualquer manifestação de Zabulão se apresentou:

- Sou Safira, estrela da terra, rainha das sensações. Respondeu com um olhar sério, mas ainda assim bondoso.
- O que me aconselha?
- Tenho observado que és demais racional. Peço que você seja um pouco menos. A razão é um presente, mas em demasia, pode ser prejudicial.
- Ficarei atento quanto a isso. E as virtudes?
- Calma razão/crítica e persistência.



Como Zabulão esperava, a estrela foi embora. O viajante ainda não tinha conseguido compreender como conseguiria acertar o que era um bom espírito juntando três virtudes. Não fazia idéia de como formaria o tal bom espírito. O amuleto voltou a palpitar e brilhar em tons de verde. Ao redor das pétalas surgiu uma camada de esmeraldas, símbolo maior de Gaia, a mãe Terra.

Zabulão respirou fundo, levantou a cabeça e prosseguiu. Ao sair da zona escura da floresta, já começava a escurecer. Ele passava por um campo semi-aberto, quando viu uma grande águia em um galho de uma árvore. Logo ele começou a correr, pois o bicho partiu pra cima do pobre viajante. O animal, bem mais ágil que ele, pousou suas patas em seus ombros, o desequilibrando em plena corrida. Após cair no chão, desesperadamente tentou se virar para encarar seu adversário de frente. Porém a águia estava parada no chão bem a sua frente. Em um movimento sincronizado, o bicho abriu as asas e se escondeu com elas, fechando-as. Um brilho cinza envolveu o animal o transformando em uma figura disforme. A figura cresceu até atingir o tamanho de uma pessoa adulta. Em uma explosão de raios, surgi uma mulher. Zabulão estava de olhos arregalados pensando: "Isso que é uma entrada triunfal". A mulher tinha cabelos curtos, encaracolados, louros, rosto determinante, vestes cinza. Sua beleza transmitia firmeza. E como as outras, brilhava.

- Suponho que seja as estrela do ar. Arriscou.
- Sim, sou a estrela do ar, rainha dos pensamentos e me chamo Ônix. Disse bem humorada.
- O que me aconselha? Perguntou retribuindo o sorriso.
- Peço que equilibre mais as coisas, use mais a imaginação e jamais se disperse
- Estou realmente, Ônix, precisando ser mais equilibrado.
- As virtudes que lhe trago são: Movimento, equilíbrio e criatividade.



Como de costume, o amuleto se envolveu em um brilho, agora cinza, palpitava e tremia. Nas laterais do amuleto surgiram asas, alto símbolo da interação entre os animais e o ar.

Zabulão continuava andando e pensando. Os acontecimentos pelos quais havia passado começavam a ter certo sentido, porém, ele ainda não conseguia juntar o quebra-cabeças. Faltava-lhe a compreensão.

Quando Zabulão retornou a realidade, já havia escurecido. Ele andava por um campo e acabou presumindo que seria muito perigoso ficar exposto ao ar livre. Em suas incontáveis viagens por este mundo a fora, vivenciou muitos perigos que com toda certeza, preencheriam vários volumes de livros de aventura. Tentou, mesmo na escuridão, observar se havia um lugar mais seguro para passar a noite. Vislumbrou uma caverna, no alto de uma pequena colina. Lá chegando, tratou de acender uma fogueira. Tirou alguns viveres de uma bolsa que trazia pendurada as costas. Dentre as opções, escolheu uma batata para assar. A colocou em um graveto e se preparou para lançá-la às chamas. Antes mesmo de completar o movimento, sentiu um grande onda de calor originada da fogueira. Já esperando a próxima estrela, o viajante se pôs de pé, se afastando lentamente de costas da fogueira. O fogo aumentou terrivelmente de tamanho e Zabulão chegou a pensar que não era uma estrela e que ele deveria correr. Quando começou a tropeçar os primeiros passos da corrida surge a última estrela. Cabelos cacheados, castanho escuro, pele negra, traços delicados, veste vermelha. Sua beleza remetia a sinceridade. O brilho que antes era transmitido pelas chamas, vinha de sua áurea.

- Eu sou Rubi, estrela das chamas, rainha da intuição.
- Bela estrela, o que me aconselha?
- Meu conselho é breve. Use seu lado racional para ser mais objetivo, bom Zabulão. Respondeu com um olhar sincero.
- Você acha que eu dificulto muito as coisas, Rubi?
- Sim, tente ser mais ativo.
- Vou tentar. E Quais são as virtudes?
- Ação, honra e objetividade.



A última metamorfose do amuleto não tardou a acontecer. No centro da rosa surgiu em meio a um brilho vermelho, uma pedra de rubi, representando assim, o fogo transformador. Depois deste dia inesquecível, o viajante foi dormir. Escolheu um canto da caverna onde tinha um amontoado de folhas secas que lhe serviriam de cama. Mal se encostou às folhas, começou a roncar alto. Então Zabulão pôs-se a sonhar.

"Estava ele andando num deserto, quando um raio de sol lhe atingiu o peito. Caiu na areia e rolou duna abaixo. Ao levantar a cabeça que girava de tontura, vislumbrou uma figura disforme que brilhava em tons de laranja. Literalmente era uma figura sem forma definida. Era uma espécie de energia alaranjada.

- Quem és tu? Perguntou Zabulão com a voz tremula e sofrida com a dor da queda.
- O Sol!
- Não é possível! O Sol?
- Não pergunte mais nada e só escute!
Zabulão estremeceu por inteiro.
- Doze quartos possui uma casa. Três destes quartos são os principais. Mas sem os nove restantes, ela não se sustenta.
O viajante escutava intrigado.
- Se conhecer a sua casa e souber medir a importância que cada quarto tem, chegarás a Luz.
- Como? Disparou o pobre Zabulão.

A figura sumiu..."



Como em um piscar de luzes, Zabulão acorda. Espantou-se em saber que já era dia. "Que sonho maluco".

Levantou e foi a um rio próximo se lavar. Ao terminar voltou a caverna arrumou suas coisas, comeu uma maça e seguiu caminho rumo a Luz. Faltava pouco e não tardou que ele chegasse às proximidades da cidade.



Luz tinha muros altos, de pedras brancas, algumas altas edificações e uma torre central. Chegando ao portão se surpreendeu quando uma figura de armadura abriu o portão e veio correndo em sua direção. Estacou bem a sua frente.

- Zabulão, és tu? Perguntou animado o soldado.
- Sim, mas como sabes?
- Estamos a sua espera.
- Estamos?
- Venha, os cinco juízes estão esperando sua pessoa para lhe avaliar.
- Mas já?
- Sempre esteve pronto. Mas agora consciente.

Não entendendo como, mas o comentário fez sentido. Logo que se colocou a disposição do soldado rumo aos juízes, descobriu que não poderia ver o interior da cidade antes de ser avaliado. O homem prateado o conduziu até uma abertura na lateral do muro. Um túnel subterrâneo se abriu e eles rumaram por um longo corredor. Depois de uns 5 minutos de caminhada chegaram diante de uma porta que para surpresa de Zabulão, possuía o mesmo símbolo de seu amuleto. Uma rosa, um tridente, esmeraldas, um rubi e asas.

- Entre! Ordenou o soldado.
Zabulão obedeceu.



Entrou. Só escuridão. A porta se fechou atrás dele sozinha. "Lugar errado?". Uma vela se acendeu.

- Não, lugar certo, nobre Zabulão.

Der repente outras quatro velas se acenderam e ele pode observar em uma mesa, o cinco juízes. Todo vestidos sob mantas de monge, com seus rostos totalmente encobertos. Porém a voz que lhe chamou não vinha daquela direção. Vinha de todas as partes. A voz tornou a se comunicar:

- Zabulão, lhe farei algumas perguntas. Ao final, os juízes darão o veredicto.
O viajante fez que sim com a cabeça.
- Qual é sua maior virtude? Por quê?
- A persistência. Porque tenho razão do que quero e tenho uma honra a cumprir.
- Qual sua pior virtude? Por quê?
- A intensidade. Porque não me permite ter equilíbrio e a sensibilidade das situações.
- Qual virtude deseja para ti?
- Calma. Porque somente assim poderei agir também com o sentimento.
- E como pretende alcançar tal virtude?
- Sendo mais objetivo, criativo e maleável.
- E então juízes? Perguntou a voz se virando para as cinco figuras da mesa.

Os cinco fizeram com a mão o sinal positivo. A voz então disse:

- Seja bem-vindo a cidade Luz, cidadão Zabulão. Comemorou a voz.
- Como assim? E o espírito bom? As três virtudes.
- Leia a inscrição em seu amuleto.
- "Estarei sempre contigo".

Enfim Zabulão compreendeu.

- Sim! A casa. Conhece tua casa. Três quartos.

Zabulão se lembrara de que seu nome significava casa. A voz lhe explicou:

- O "Espírito Bom" é todo aquele capaz de desvendar os mistérios do universo. Lembra da velha frase? "Conhece a ti mesmo e desvendarás os mistérios do universo". Você provou que conhece não só suas três virtudes (Persistência/Razão/Honra), como os seus defeitos (Intensidade/Falta de Equilíbrio/Falta de sensibilidade), suas ambições (Calma/Ação/Sentimento) e como deve buscar elas (Objetividade/Criatividade/Movimento). Cosmos lhe disse no bosque que as estrelas não lhe dariam todas as respostas, mas não disse que não dariam nenhuma. Como sabe, todas elas lhe deram orientações. E você como um ser que se conhece bem, as utilizou da melhor maneira que se encaixasse a você, como foi possível ver em suas respostas. Daremos-lhe agora as chaves de sua residência.

Zabulão já chorava.



Numa ação conjunta, todos os juízes tiraram suas mantas e o viajante percebeu quem eram. Cosmos, Pérola, Safira, ônix e Rubi. As belas estrelas e espírito sorriam para Zabulão como se dissessem: "Está vendo?". Der repente um calor surgiu ao redor de Zabulão e novamente a figura disforme apareceu. Era a voz que o indagava.

- Sol?
- Sim! Fique parado.

Repentinamente, parte de sua energia alaranjada rumou como um raio de sol em direção ao peito de Zabulão. Assim como no sonho. Ela se encontrou com o amuleto e com ele se envolveu. Um brilho forte surgiu e invadiu totalmente o recinto onde se encontravam. O viajante pensou ter ficado cego. Quando abriu os olhos se viu no topo da torre com o espírito, as estrelas e o sol. Algo vibrou em seu peito. Notou então, que o amuleto havia se transformado em uma estrela de cinco pontas, símbolo da iluminação. As chaves!



Enfim, O Nobre viajante completava sua missão. Então o sol lhe disse:

- Será o médico. Dou-te como nobre tarefa, levar estes ensinamentos as pessoas. Realmente o mundo não está perdido. Somente desorientado. Um dia, todos residirão conosco, na Luz...

LUCAS NOGUEIRA GARCIA

(DESCULPEM POSSÍVEIS ERROS)

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