quinta-feira, janeiro 03, 2013



Análise do álbum "Fluid Emotion", de João Carlos Furlani, por Lucas Nogueira Garcia:




Pretendo aqui explorar o universo e imaginário psicológico, emocional, racional e espiritual da obra Fluid Emotion. Furlani, o compositor em questão, demonstrou sua profunda e sublime compreensão da vida e do espírito humano ao embricar diversos símbolos e significações que despertam ao ouvinte os mais singelos sentimentos e sensações. Com um bom gosto refinadíssimo, sensibilidade afiada e altíssima musicalidade nosso compositor concebeu uma das mais belas viagens já elaboradas no universo da música Psicodélica/Progressiva/New Age, digna de um "The Wall" e "The Final Cut" do Pink Floyd ou, até mesmo, de um "Journey To The Centre To The Earth", "Beyond The Planets" e "Zodiaque" do mestre dos Synth, Rick Wakeman. A quem demonstrou não dever nada. Afirmo que Fluid Emotion está entre as grandes Óperas já elaboradas neste universo música e, em se tratando de filosofia, tão relevante quanto um "Dark Side of The Moon", do mesmo Pink Floyd, já que trata de assuntos delicados como a "guerra" e o "tempo", invade, sem pudor, a mente humana e mostra os seres humanos sob uma ótica espelhada. Assim eu convido os leitores a mergulhar junto comigo, e o Furlani, neste universo chamado Fluid Emotion. 

Análise

Na faixa "Sweet Dream" é esplendida a forma como ele conseguiu representar um sonho, ou até melhor, uma soneca hiper relaxante. É possível escutar a trilha sonora dos meus descansos mais tranquilos. É uma verdadeira viagem rumo a terra dos sonhos. Assim chegamos na idade das máquinas (Wake Up To The Age Machines), onde nosso viajante se depara com um universo completamente dominado pela maquinaria e pelos engenhos mecânicos. A princípio tudo é rústico. Entretanto, conforme ele mergulha nesse novo universo descobre que essas máquinas evoluíram, passaram a ter personalidade própria, a dominar e a raciocinar como faziam os seres humanos. A peça termina de uma forma inesperada com uma sonoridade que me remeteu a algo espiritual, como se as máquinas tivessem chegado a um tipo tão avançado de civilização que passaram a ter uma religião e um culto delas próprias. Algo como a "Força" em Star Wars, porém num universo robótico.




Então inciamos a jornada nebulosa (Nebulous Journey) ao mais profundo de nossas mentes. O viajante dos sonhos deixa a era das máquinas e vai se enfurnar dentro de si, dentro de seu subconsciente, no mais oculto e obscuro de sua existência. Essa canção eu tive o prazer de escutar de olhos fechados e usufruir de sua profundidade. É uma verdadeira aventura, tão boa quanto um "On The Run" (Dark Side Of The Moon - Pink Floyd). Como se não bastasse essa viagem inimaginável para dentro de seu psicológico o nosso viajante resolve desafiar o próprio tempo (Spending Time), aqui é onde as coisas tomam um aspecto de confusão, pois se o tempo está esmigalhado o que estava ali pode estar aqui e vice e versa. É um ciclo eterno, um relógio que nunca para, mas ao mesmo tempo não vai pra frente nem vai para trás. As horas dançam em redemunho como folhas secas num parque de outono.




O medo ( Fear of Contact) é aquilo que justifica a razão do homem, segundo Nietzsche, é o que faz a razão do homem trabalhar em busca das respostas para seus problemas. Atmosfera linda a dessa música, apesar do tema! Essa faixa prepara o terreno para algo que eu considerei bem coerente, um outro planeta, uma outra vida, o que me soou bem primitivo (Another Planet, Another Life). Após ter contato com um futuro muito distante e conhecer a era das máquinas agora ele se defronta com a origem da humanidade. Me lembrei da primeira sequencia do filme "2001 - A Space Odissey" de Stanley Kubrick, o surgimento da razão nos homens primitivos. O contato com o medo (o monolito do filme) gerou essa razão nos primeiros homens. O que era uma vida primitiva se encerra num TURBILHÃO, produto da razão e culmina nas explosões e o fim de tudo, também produto da razão do homem. A razão protege e destrói. Cria as leis, cria as guerras.



Não satisfeito em explorar a mente do homem, os sonhos, viajar no tempo e tudo mais ele começa a fazer viagens em diferentes escalas do espaço. Em presença hostil (Hostile Presence) ele assume a forma microscópica e conhece a pior das presenças imperceptíveis, a doença, o vírus, as bactérias. Algo sutil, que parece inofensivo, bobo, mas destrói, corrói, morde, arranca pedaço e traz sofrimento. Em certo momento é possível escutar uma bomba explodindo e pessoas gritando, essa é a pior das doenças, a ganância, a loucura, a vontade de querer ser melhor que o outro o subjugando. Então vem a carnificina da guerra (The War Carnage), o desespero comovente das pessoas gritando, doença do homem, produto da razão. Essa foi uma das músicas mais bonitas que eu já escutei! Depois da guerra, da matança desenfreada e das loucuras da ganância nosso viajante se depara com um clima de incompreensão (Ashes, Defeat and Disconsolation). É possível notar as pessoas buscando um sentido para tamanhas atrocidades, desde o mais inocente até o general mais megalomaníaco. Pairam no ar interrogações, formadas pelas próprias cinzas e nuvens de fumaça. É como se a Lagarta de Alice no País das Maravilhas estivesse lançando suas questões psicodélicas no ar. O ser humano chega a loucura de destruir tudo e se arrepender amargamente. Só que isso é um ciclo. O homem faz a guerra, cria acordos de paz, guerreia novamente e nunca está satisfeito. Nunca sacia sua fome, sua ânsia, seus desejos macabros. É como a cena final de "O Planeta dos Macacos", filme de 1968 do diretor Franklin Schaffner, onde o Astronauta Taylor esbraveja, batendo com os punhos cerrados nas areias da praia diante de uma Estátua da Liberdade milenar e destruída, "Seus malditos, vocês conseguiram, destruíram tudo, acabaram com tudo, tudo pela ganância! E de que valeu?" A questão que eu lanço: Será que isso não é ser normal? Talvez todas as formas de vida inteligente tenham uma ganância inata. 



Então ele retorna a sua jornada nebulosa (Nebulous Journey, The Return), olha para dentro de si próprio e se pergunta "será que o que eu acho que é a minha forma de pensar não é a forma que foi me imposta durante a vida?". É o ocultismo, é a filosofia. Nosso viajante olha para dentro de si próprio buscando as respostas. Respostas que são dele, e de mais ninguém. Respostas que vem única e tão somente do ser espiritual dele. E é aqui, Ah, mas é aqui que ele descobre o segredo da vida, o segredo da existência, o segredo do Universo. Tudo está dentro dele, tudo se faz nele, pois Deus está nele como uma força vital. Ele descobre que não há sonho mais doce que estar em casa (Sweet Dream Is To Be Home), dentro de si próprio, em comunhão consigo próprio. Autoconhecimento! Não é preciso dizer mais nada! Que assim seja! "Conheça-te a ti mesmo e desvendarás os mistérios do Universo" (Oráculo de Delfos).



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