terça-feira, dezembro 20, 2011

Um Lugar familiar, mas diferente.


Relato extraído de um diário perdido, no qual não revelarei o nome do autor, para buscar preservar a mensagem entrelaçada no mais profundo de sua narração...

...

A noite parecia muito mais tranqüila que o habitual. No caminho entre o trabalho e minha casa, pouco vi além de ruas e casas que aparentavam não haver residentes ou há muito já adormeciam. Raríssimos foram os momentos em meu percurso em que dividi o asfalto com algum outro carro. O céu naquela noite estava incrivelmente estrelado, não havia sinal algum de nuvens e a lua brilhava gloriosa.



Ao sair de meu trabalho, tive uma estranha sensação de liberdade. Na verdade, não é nada anormal se sentir livre depois de um cansativo dia de trabalho. Entretanto, naquela noite, me sentia como se TODO O PESO DO UNIVERSO tivesse se esvaído no ar, deixando meu corpo em paz. Tinha a sensação de ser um daqueles aventureiros das eras antigas, que desbravavam os confins do mundo em busca de novidade. Assim eu fui para a casa.

Ao sair do carro, minha pele experimentou a mais suave das brisas da noite. É como se mãe lua me acariciasse, querendo me reconfortar. Sempre fui um cara muito paciente, que gostava de gozar dos mais singelos detalhes, amante da natureza e insatisfeito com tudo que era superficial. Sempre esperei, e assim alcançava meus objetivos. Uma vez, quando era adolescente, escutei em uma entrevista na TV, uma banda fazer a seguinte declaração: "A velocidade do caminhar, é resultado da quantidade de passos certos que você dá na vida. Quanto mais rápido você caminha para determinadas coisas, mais de formiguinha seus passos se tornam."

Guardei aquilo para sempre! Já havia conquistado muitas coisas, porém nunca estava satisfeito. Não que isso fosse algo ruim e que me corroia por dentro, isso é coisa para materialistas. Pelo contrário, era isso que me movia como ser humano, a busca eterna pelo mais, pelo saber, pelo crescer. Diferentemente dos muitos de meus colegas de trabalho, eu não queria alcançar um status, ou uma posição onde o retorno financeiro seria consideravelmente favorável. Era um desejo simples, de mostrar para eu mesmo que estava aprendendo e progredindo no que fazia. Não era uma simples escalada profissional, era uma evolução.

Ao chegar a casa, saí do carro e tirei as chaves de dentro de minha maleta de trabalho. Inconscientemente abri a porta e entrei. Após fechar a porta, liguei a luz de minha sala, coloquei a maleta sobre uma das cadeiras da mesa, e sem exitar fui subindo rumo ao meu quarto, que ficava no segundo piso da casa. Preparei-me para o banho...

...

Após sair do banheiro, me sentia tão satisfeito, sem saber o porquê, que nada mais almejava além de dormir. Desliguei as luzes e tranqüilo, deitei em minha cama. Adorava a calmaria da noite. Deitado, tinha a sensação de que não havia mais nada no mundo, a não ser o meu quarto. Era como se todas as mega-cidades poluídas do mundo não existissem, e a paisagem lá fora voltasse a ter a sua forma primitiva, natural. Meus olhos começaram a pesar e...

...

Minha vista estava completamente embaçada e uma luz forte quase me cegava por completo. Tudo era confusão em minha mente. Tive a sensação de ter sido seqüestrado, amarado, vendado, jogado dentro de um furgão e ter despertado em um lugar que não sabia onde era. Aos poucos minha visão ia voltando ao seu estado normal. Percebi que estava deitado não mais em minha cama, mas em um gramado tão fofo quanto. Sentei-me. Não estava entendendo nada. Parecia que estava de ressaca depois esgotar uma garrafa inteira de Red Label. Foi quando eu voltei ao normal e um vento fresco me envolveu.



Percebi que estava no meio de um jardim. Mas não parecia um jardim qualquer. Era uma espécie de ''praça-jardim''. Não havia canteiros, mas sim calçadas onde tranquilamente residiam belíssimas flores e árvores de no máximo dois metros, tão frágeis que seus caules eram mais finos que meu braço. Percebi que vestia uma roupa muito fina, semelhante aquelas utilizadas na Índia.



Fiquei de pé a modo de verificar melhor o lugar onde estava. Naquele momento, incrivelmente não parecia estar desesperado por não estar em meu quarto deitado em minha cama. Estranhamente, me sentia em casa. Aos poucos foi ficando mais claro o que observava e mais detalhes surgiam. Percebi que a ''praça-jardim'' simulava uma floresta em miniatura com pequenas, porém complexas, ruelas que eram delineadas pelas calçadas de flores.

Tentei aguçar mais minha visão e me assustei. O jardim se situava em uma espécie de platô, semelhante aqueles de ruínas maias, porém muito mais alto. E mais assustador que isso, era A FLORESTA ao redor do platô. O jardim era suspenso em meio a uma floresta enorme, muito maior do que qualquer outra que conhecia, a ponto de haver árvores que se estendiam a alturas bem superiores a do jardim. Lá embaixo, bem lá embaixo mesmo, corria um poderoso e caudaloso rio dourado formado a partir de uma cachoeira, que rumava tão longe rumo ao horizonte, que se perdia em meio as árvores a distância. Era uma espécie de jardim maia-babilônico bem no meio de uma floresta indescritível. Talvez, nem com mil livros seria capaz de fazer uma descrição fiel do que via.



Voltei minha visão para o jardim, pequenos animais, como esquilos, coelhos, gatos e belos passarinhos preenchiam o lugar de vida. Algumas estátuas de seres de quatro braços surgiam em meio às flores. Seriam as divindades hindus? Percebi que ao redor do jardim havia duas paredes. O jardim visto de cima tinha uma forma retangular (30 metros de lado e 15 de fundo) e tais paredes se erguiam a seis metros de altura em seus lados menores. Na parede norte, que tinha o formato de uma casa, assim como a outra, havia uma grande porta, que estava fechada. Assim como a parede, a porta também era feita de madeira. A parede oposta tinha o mesmo tamanho, com a diferença de estar TODA ornamentada de flores e não haver nem porta nem janela. O estranho é que tais paredes pareciam não ter serventia, já que as laterais de lado maior do jardim eram abertas. Uma madeira ligava as duas paredes pelo alto, onde pendiam luminárias.

O sol que iluminava o jardim era um sol das sete da manhã, e não parecia mudar. O clima era tão fresco, que tinha a sensação de estar sempre ''de banho tomado''. Aos poucos minha mente ia se adaptando ao que via, como se despertasse de um transe, foi então que avistei as primeiras pessoas. Na verdade, quero dizer, mulheres. Vi três belas jovens vestindo cada uma, uma roupa de cor diferente. Azul celeste, verde e vermelho. Elas olharam para mim sorrindo, e mais nada fizeram. Pareciam inertes, como se fossem simples planos de fundo do que via.

Caminhei pelas ruelas do jardim e percebi enquanto pegava algumas romãs para comer que a gravidade onde estava era muito mais fraca. Porém, isso parecia não me assustar. Era como se tudo aquilo, que era novo, também fosse familiar. Era como estar em um lugar onde tudo era paz. E nada era melhor. E foi caminhando pelas ruelas do jardim, que descobri que no canto sudoeste havia uma casa de madeira. Havia muitos jarros de flores, pássaros cantando nas telhas. Então, resolvi entrar. Na porta da casa encontrei um senhor, que parecia ser chinês, e tinha uma expressão de seriedade, digna dos mestres orientais, sentado em uma cadeira. Ele olhou para mim. Pela primeira vez naquele lugar tive a sensação de não estar sozinho. Ele me olhava, como que esperasse alguma atitude. Foi então, que ele me falou:

- Não entre aí. Disse ele sem mudar sua expressão.



Eu não respondi. Simplesmente olhei para ele e assenti. Depois entrei. Aconteceu que ao colocar meus pés dentro da casa, minha cabeça se encheu de uma energia muito densa. Senti como se me enchesse de sabedoria. Porém, isso quase me fez cair no chão. Meu corpo parecia não estar preparado para aquilo. Foi então que dei mais alguns passos casa adentro. Fiquei em transe como se estivesse embriagado. Tudo girava em minha visão. No centro da casa encontrei uma porta que não hesitei em abrir e entrar. Encontrei uma escada que descia para uma escuridão. Desci. Ao chegar ao nível inferior, luzes se acenderam e eu encontrei mais uma porta, que entrei. Outra escada, agora para cima. Outra porta, outra escada, outra porta, outra escada...

Foi quando senti algo MUITO estranho. Minha visão escureceu. Senti-me sendo puxado por uma força poderosa, e quando me vi, estava caído mais uma vez no meio do jardim. Havia anoitecido e as luminárias estavam acesas. Olhei para o horizonte, para a floresta na noite e percebi que havia vários pontos acesos. Eram outros jardins semelhantes ao que estava. Senti uma agitação no ar. Parecia que algo estava prestes a acontecer. Vários pássaros e abelhas voavam por cima do jardim. Havia várias mulheres enfileiradas próximas a parede sul de flores, entoando um cântico que eu não compreendia.

Eis que o senhor oriental apareceu ao meu lado. Tocou-me no ombro e disse:

- Você tem que tomar uma decisão. Disse o homem esperando que eu fosse imediato.

Ouvindo isso, parecia que não mais controlava minhas ações. Tudo era caótico. Levantei-me e corri rumo à parede norte. Olhei para a grande porta e gritei:

- Abra.

Ela começou a se abrir. As mulheres que antes cantavam, agora gritavam em tom de comemoração. Os pássaros e abelhas que sobrevoavam o jardim começaram a se retirar pela porta em uma velocidade aterrorizante. Foi então que...

...

Abri os olhos e percebi que já havia amanhecido.



LUCAS NOGUEIRA GARCIA



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sábado, dezembro 17, 2011

O Resistir da Mudança

O Resistir da Mudança




Parte de mim ainda resiste,
de onde só se pode encontrar,
entre estrelas dos antigos,
palco do primeiro ordenar.

O resistir é intocável,
inacessível, inacabado.
É o que dá sentido a vida,
o ofício do admirável.

É trabalhando a resistência,
que construo o saber,
essência eterna, perseguida,
o dom da vida, o conhecer.



Parte de mim na ida e vinda,
cobra a certa atitude,
a resistência torna eterna,
a santa e completa virtude.

Estudando este caminho,
salto pedras, venço precipícios,
de tudo que não me agrega,
não guardo nenhum resquício.



Este é o ouro da alquimia,
parte do meu refúgio,
onde alcanço as estrelas,
me protejo do dilúvio.

Tempestade que destrói,
e onde é fácil se molhar,
largo mão da normalidade,
superficialidade de um só olhar.

Trabalhar com o primitivo,
é um templo a construir,
rochas primeiras de toda essência,
o segredo do resistir.



O segredo que é segredo,
brilho que ilumina,
o sol, a lua e as estrelas,
Prática divina.

Tornando concreta a promessa,
a paz eu vou buscar, 
o universo que eu prezo,
irá me recompensar.



Lucas Nogueira Garcia

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