terça-feira, julho 10, 2012

O Céu, as estrelas e a chuva da morte...


PARTE UM: A Noite Macabra...



Olá! Provavelmente você descobriu este manuscrito em alguma biblioteca universitária do Brasil, meu país. De onde exatamente, eu não sei. Meu nome é William e saiba que estou, a partir destes segundos, lhe confiando algo de grande importância. Não se sinta com sorte ou, dependendo de seu estado de espírito, com azar. Pelo menos eu acredito que o destino sabe das coisas, e se você chegou até esta carta apenas use sua sabedoria. Deixe que seus instintos te guiem e sua razão lhe mostre os limites necessários. Seja Sábio! A partir de agora, dê adeus a muita das coisas que você acredita.

Sabe o que é viver acreditando que sua realidade é simplesmente “a realidade” e, de repente, você toma um baque que te deixa desnorteado? Se não sabe, vai saber, mas se sabe, conhecerás agora uma história em que isso chegou ao limite extremo da compreensão. Não estou querendo lhe assustar, só quero que você saiba exatamente como aconteceu.

...

Quando tudo aconteceu tinha meus 20 anos. Era um adulto extremamente racional, que só acreditava no que era empiricamente comprovado. Nunca gostei de mitologias, religiões e nada que fosse de um teor muito fantasioso. Vivia somente pelo o que meus olhos podiam enxergar, ou os fatos concretos podiam comprovar. Vivia de aparências e cálculos. Achava uma grande bobeira acreditar em “forças” invisíveis capazes de interferirem na vida das pessoas. Esse tipo de coisa não era compatível com o tipo de pessoa que eu era. Não conseguia respeitar a opinião de pessoas que acreditavam em coisas transcendentais. Se existisse algo verdadeiramente "fora do normal" eram essas pessoas. O futuro, às vezes, é algo que vem como um tsunami, e você no máximo se contenta em se adaptar.

Certa vez fui presenteado com um livro. E este livro não se parecia em nada com o que eu já havia lido. Pior, não tinha nada ali que eu apreciasse, só coisas que me faziam raiva. Era um livro chamado "O Medo - Matéria do Próprio Sonho". O livro dizia que o medo como uma foça da mente, um tipo de "energia" era capaz de moldar nossas vidas a ponto de nos tirar de nossa própria realidade. O medo seria uma espécie de "continuidade", algo que nos ligaria a "vidas passadas" e acontecimentos "já ocultos em nossa memória". O medo seria a marca, a ferida, aquele que sempre está em seu espírito. A obra ia além, dizendo que é a partir do medo que o nosso espírito adquiri sabedoria e evolui, é o que o caleja. É claro, achei tudo uma grande besteira. Vidas passadas? Espírito? Que coisa mais desinteressante e sem nexo. Nascemos, vivemos, morremos, apodrecemos e só. Nada mais além disso! 

A verdade é que algo ali pareceu fazer sentido e aquilo martelou minha cabeça por dias. Parecia um vírus em minha mente. Senti raiva por isso. Passei meus dias terrivelmente incomodado, como se tudo aquilo realmente devesse me preocupar. Isso mexeu tanto comigo que me vi tomando conclusões nada racionais, flertando com a superstição. Atribui todo aquele desconforto ao livro. Os dias se passaram e eu comecei a sentir fortes dores de cabeça. Deitava, dormia estranhamente eu acordava muito bem no dia seguinte. Nem tinha sonhos, era como fechar os olhos e abri-los no dia seguinte. Mas com o passar dos meses isso foi caindo no meu esquecimento. E assim as dores de cabeça foram embora.

...

Dois anos se passaram. Eu já estava quase me formando no curso de Matemática. Nesse tempo, me tornei um grande amigo de um cara chamado Miranda. Ele era muitíssimo inteligente. Dava-me inúmeros conselhos quanto ao uso excessivo da racionalidade. – As pessoas racionais demais estão sempre muito ocupadas para viver. Um dia você ainda será ludibriado por algo que você muito desacredita – alertou-me. Não imaginava o quanto de verdade havia naquelas palavras. Deveria ter ouvido mais meus amigos.

...

Um dia resolvi a praia. Sempre gostei de olhar o mar e afundar meus pensamentos nele. Ia longe. E dessas inúmeras reflexões a palavra "medo" surgiu como um flash. Imediatamente eu comecei a lembrar de tudo que havia lido naquele livro. Deixei minha mente livre para fazer perguntas: "Será que realmente os espíritos ficam vagando de corpos em corpos de geração a geração? Será que eu, William, sou apenas mais de algo muito mais permanente?" Com um balançar de cabeça rejeitei todas essas hipóteses. Levantei corri até o mar e mergulhei tais loucuras no profundo do oceano. Na volta para casa minha cabeça começou a doer. "Maldito sol, queimou meus miolos", pensei. Só que me veio a mente a lembrança das dores de cabeça que eu sentia quando havia lido o livro. "É um absurdo. Amanhã será diferente. Acordarei bem!", disse para mim mesmo ao chegar em casa e me deitar. "Pelo menos eu só fecharei os olhos e estarei melhor." E foi assim que em um dia de primavera eu me levantei da cama eu fui para o trabalho. O dia estava incrivelmente bonito. O céu estava limpo revelando um azul de cor riquíssima. O clima estava agradabilíssimo. E até mesmo as pessoas pareciam ter acordado de bem consigo mesmas. Todo mundo estava com um semblante sereno e amigável. As coisas estavam boas até demais. Mas apesar disso, não suspeitei de nada. Para quê? Tudo estava correndo bem e o dia era bom, não havia necessidade de questionar coisas em tão perfeita ordem. Essa foi minha ruína.

Fiz o meu trabalho avidamente sentindo uma estranha empolgação. Parecia uma criança louca para terminar o dever de casa e curtir a vida. Ao sair do trabalho encontrei meu parceiro, Miranda. Ele tratou logo de me avisar que nossos professores estavam em uma reunião importante e hoje não dariam a aula. Abri um leve sorriso, como se esperasse algo do tipo para aquele dia. Não tendo o que fazer resolvemos, eu e Miranda, dar uma caminhada pelos grandes pátios arborizados da universidade, a modo de colocarmos a conversa em dia. Falamos sobre nossas namoradas, nossos clubes de futebol, sobre filosofia, até pararmos em um espaço aberto de onde dava para ver o céu sem nenhuma interferência de iluminação artificial. – Noite limpa essa, não?  - disse eu analisando o que via. – Nunca vi um céu tão estrelado! – rebateu Miranda. – Talvez seja só a ausência da luz dos postes de energia – sugeri. – Não! Há algo de diferente no ar – disse ele intrigado. – Vai dizer que agora você anda usando drogas? – brinquei. – Viu aquilo? - indagou-me. – O que? – perguntei espantado.

Foi aí que eu vi algo bizarro. Algumas estrelas começaram a se morrer de um lado para o outro, confundindo-nos. Não eram estrelas cadentes, pois estas caem e não fazem elipses no céu. O movimento destas foi aumentando de velocidade até sermos incapazes de acompanhá-los. Quando nos demos conta, vários outros conjuntos de estrelas faziam o mesmo movimento, transformando o céu em um frenesi total. O seu brilho, cada vez maior, foi nos jogando contra o chão nos privando de ver o que acontecia. Estávamos hipnotizados. E mesmo agora, não posso me recordar exatamente do que aconteceu. Só me lembro de estar caído sobre um campo aberto, por entre as árvores e um ruído grave me ensurdecendo, penetrando em minha alma, me paralisando e me dando tremores. Estávamos, eu e Miranda, dominados por uma força desconhecida e invisível, até ouvirmos um baque parar tudo!

Aos poucos fui retomando o fôlego e a consciência, e reparei que Miranda passava pelo mesmo processo. Quando consegui ficar de pé, tudo parecia estar no lugar. E um silêncio súbito reinava no ambiente. Eu estava surdo? Não sei! Mas após alguns segundos pude ouvir alguns passos atrás mim (Clack.. Clack... Clack.. Clack...), me virei e constatei que era somente uma moça caminhando tranquilamente. E antes de imaginar ter passado por um devaneio, senti e ouvi um forte vulto (zuumm). Pude ver e ouvir que alguns arbustos se mexiam em vários cantos do pátio. Eu e Miranda nos entreolhamos, e quando pensei em dizer que deveríamos sair de lá ouvi um grito de desespero. Só meus pensamentos sabem o quão aterrorizante foi aquele momento. Senti meu corpo bambear com o susto. Olhei novamente para Miranda que estava com os olhos arregalados. Neste momento eu apresentaria aos meus olhos a visão mais horrenda e amedrontadora que minha curta vida já presenciara. Uma enorme fera, semelhante a um crocodilo? A um lobo? A um urso? Pouco importa. A verdade é que um monstro cheio de dentes e pêlos havia devorado metade da mulher que acabara de passar por nós. Em meu desespero tive consciência de olhar ao meu redor, observando que 50 metros depois do monstro passavam correndo quatro pessoas desesperadamente, e logo atrás vinham mais dois exemplares do mesmo monstro. Ouvi seu rugido (Grrrr), e quando o grupo entrou em meio às árvores, sumindo de minha visão, também pude ouvir gritos de dor. Senti raiva. Voltei-me para Miranda no exato momento em que ele bateu em meu ombro. – Corre porra!

Não sei se ele, e muito menos eu, sabia para onde corríamos. Creio hoje que só corríamos. Era nosso medo e desespero falando mais alto. Era nosso instinto de sobrevivência nos movendo por entre as árvores. Rumo ao nada, fugindo da morte, desejando estar no mais traiçoeiro dos pesadelos. Mas tudo era real, pois vi Miranda se jogar bruscamente para o lado enquanto uma fera investiu contra ele. Não faço idéia de onde ele tirou aquele reflexo, pois foi suficiente para desviar do monstro que cravou seus dentes em uma árvore. Passei pelo demônio e ajudei Miranda a se levantar. Corremos, muito, até chegar ao estacionamento a céu aberto da universidade, que tinha o tamanho de dois campos de futebol. Olhamos adiante, para a saída do estacionamento na ala norte, e vimos quinze pessoas sendo perseguidas por três monstros. Olhei para a ala oeste e percebi que por lá sete monstros trucidavam pessoas, as rasgando e jogando-as contra os carros. Como se uma força nos movesse, eu e Miranda corremos o máximo que podemos para a ala leste do estacionamento, onde havia uma parte coberta reservada aos diretores da universidade. Lá nos escondemos atrás de uns carros, dentre eles um Chevrolet Camaro. – Temos que chegar ao prédio de Matemática. Tenho as chaves de uma sala, onde podemos nos esconder – disse eu muito ofegante. – O que são essas coisas? Vamos morrer! – disse Miranda assustado. Nunca o vira naquele estado e creio eu que ele deveria estar pensando o mesmo de minha expressão. A morte, o horror e o desespero estavam diante de nós, e se não fizéssemos nada teríamos o mesmo fim de todas as pessoas que agora eram dilaceradas  em meio aos carros. – Isso é uma grande desgraça! Só pode ser um pesadelo – disse eu não acreditando no que via. – Como sairemos daqui e chegaremos em segurança ao prédio de Matemática? – perguntou Miranda. – Pelo único método que nos restou. Correndo muito!

Quando nos levantamos de nosso esconderijo e demos alguns passos a frente, uma fera caiu com seu corpo pesado sobre o Camaro, que ficou esmagado. Nos encarou. Provavelmente estava lá para nos atacar, e por sorte saímos na mesma hora. Saímos o mais rápido possível de lá, estacionamento adentro, e a fera nos perseguiu. Um meio fio que dividia as vagas dos carros me fez tropeçar e cair. A besta horripilante pareceu diminuir sua velocidade se preparando para investir contra mim. Olhei-a nos olhos, e vislumbrei a morte. Pude reparar que ela tinha três vezes o meu tamanho. Era o meu fim. Percebi a presença de Miranda atrás de mim, parecendo esperar que um milagre me desse alguma chance de sobreviver. Foi então que ela investiu. Fechei os olhos e esperei o meu julgamento final. Mas nada aconteceu além do barulho de um impacto violento. Quando abri os olhos (tudo parecia acontecer em câmera lenta) vi que um carro havia atingido em cheio o monstro, e agora ambos capotavam por cima dos carros. Deveria ser alguém tentando fugir, algo que infelizmente acabou em desastre, porque agora carro e monstro explodiam em uma imensa bola de fogo e destroços. Miranda me gritou, e eu entendo me levantei e voltei a correr. Tudo foi tão rápido que eu nem tive ao menos tempo de pensar no perigo que passei. Agora só corríamos em direção ao prédio de Matemática.

FIM DA PARTE UM

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Luz e sabedoria a todos!!