segunda-feira, julho 02, 2012

Bijuterias - João Bosco/Aldir Blanc – Análise

Um olhar sobre a canção do cantor e compositor mineiro João Bosco.



Aqui eu tentarei discutir um pouco do significado desta bela canção, contida no álbum "Tiro de misericórdia" de 1977. Ela percorreu mais de 30 anos até reaparecer firme e forte em 2011 no remake da novela "O Astro". É claro, né? Uma obra de João Bosco e Aldir Blanc sempre será atemporal, afinal estamos nos referindo a dois gênios da música brasileira.


Ela acabou, por incrível que possa parecer, entrando de última hora como tema de abertura da novela "O Astro" de Janete Clair em 1977. O produtor Guto Graça Mello estava a procura de uma canção que tivesse bastante afinidade com o tema místico da novela, porém, não obteve muito sucesso até tomar conhecimento das gravações do novo álbum de João Bosco, que viria a se chamar "Tiro de misericórdia". Guto então resolve visitar João no estúdio, para pedir alguma informação que o ajudasse. Foi quando ele decidiu escutar o que já havia sido gravado por João. E ao chegar a faixa n°9 a aceitação por parte de Guto foi instantânea.



Pois bem, história contada, agora mãos a obra.


E/D
Em setembro
Dm7/9
Se Vênus me ajudar
G7/9
Virá alguém
F#m7
Eu sou de virgem
F7M
E só de imaginar
Bb7/9 A7M 
Me dá vertigem

Vênus é a deusa do amor que ajudará a nossa pessoa de Virgem, nascida em Setembro, a encontrar seu amor. E isso lhe traz vertigem, dado o alto grau de realismo, e por ventura, pessimismo do virginiano. Repare como a harmonia criada por João Bosco nesta parte da música condiz exatamente com a letra de Aldir Blanc. Ela traz uma sensação de “plano das idéias” onde o narrador da história parece estar pensando sobre si mesmo, e de repente, dá-se um baque harmônico rumo a narrativa da história propriamente dita.

Dm7/9 
Minha pedra é ametista
G7/9
Minha cor, o amarelo
C7M
Mas sou sincero
Necessito ir urgente ao dentista

A pedra dele é a Ametista, que o auxilia a desvendar os sonhos e entender o plano celeste, papel de um bom esotérico. E sua cor é o amarelo, cor que o auxilia a entender os diferentes pontos de vista, e assim, assimilar uma sabedoria que o permita desvendar os mistérios da vida. Mas sendo sincero e realista, ele sabe que precisa ir ao dentista, pois ninguém é invencível. Assim como qualquer pessoa na face da terra, ele deve se cuidar, pois mesmo sendo de Virgem (um indivíduo extremamente racional) isto não o impede de ter defeitos como qualquer um. Reparem que nesta parte da harmonia, que já começa melancólica, exatamente na frase “mas sou sincero, necessito ir urgente ao dentista” ela ganha um peso mais obscuro com o acorde “C7M” mostrando a fragilidade humana.

F7M F#m7
Tenho alma de artista
E11+/B G#m7
E tremores nas mãos

Ele tem uma grande alma de artista, por assimilar bem as coisas, mas seu realismo o faz ter medo (tremores nas mãos), coisa que também é característica do lado negativo do amarelo. Os virgianos não dão margem à emoção por "temerem" serem domados por ela, daí o artista que treme. Interessante é a gangorra harmônica que temos nesta parte da música: Começamos em um grave “tenho alma” em F7M; atingimos o auge em “de Artista” em F#m7 (acompanhado do coro), dando uma demonstração nostálgica do que pode ser um virginiano artista; mas começa a decair para um estágio de certa incredulidade, devido ao “tremores nas mãos” em E11+/B e o G#m7 até culminar na próxima parte.

Bb7/13- Eb7M/9
Ao meu bem mostrarei
D7M/9 F#m7 
No coração. Um sopro e uma ilusão
B11
Eu sei

Mostrar o coração ao bem dele é uma ilusão, pois seu lado racional sempre falará mais alto ("eu sei"). Aqui a harmonia da música parece entrar numa “vibe” ilusória, bem de acordo com esta passagem, e os acordes F#m7 e B11 em seqüência parecem reforçar o “eu sei”, música e letra concordando ao mesmo tempo.

Em7 B4/C#
Na idade em que estou
F#7/13- F#7 F--E7--A7M
Aparecem os tiques, as manias

O virginiano por ser lógico e racional, é metódico, e uma pessoa idosa e metódica acaba adquirindo alguns tiques provenientes de suas "manias". A harmonia nesta parte atinge uma volta a realidade em “na idade em que estou” com os acordes Em7 e B4/C# dando uma impressão de preparação para o fim de uma história, até então decair pelas notas F#7/13-, F#7, F e E7, culminando em A7M constatando “as manias” de uma vida regada por metodismo.

E/D Dm7/9
Transparentes Transparentes
G7/9
Feito bijuterias
F#m7--F7M--Bb7/9--A7M
Pelas vitrines
Dm7/9
Da Sloper da alma

No fim de tudo, o que importa é você ser quem você é, transparente, feito uma bijuteria ou uma vitrine, que aqui no caso é a da Sloper, uma loja de Departamentos do RJ... E finalizando, a partir dessa transparência, dessa vitrine, a pessoa amada escolhe ou não se juntar (comprar) a outra. Aqui a harmonia volta ao seu estágio inicial do “plano das idéias”, ilustrando a conclusão das reflexões da pessoa em questão. E reparem que após a frase “da sloper da alma” a música entra em um arranjo de cordas simbolizando a paz de quem finalmente se encontrou com seu “eu”, vivendo de bem consigo mesmo, reconhecendo seus limites e sabendo onde pode chegar.


Espero que tenham gostado. Se gostou me segue. Grande abraço!