segunda-feira, fevereiro 18, 2013


É GOSTAR E SER FELIZ


A Nova Onda - Ivan  Aivazovskii 

Gosto se discute? É claro que sim. Pelo menos em um mundo submetido ao puro racionalismo. A partir do momento que se admitem “verdades” é reconhecível o desgosto de uns pelos gostos dos outros. Reclamar é um direito. Até mesmo menosprezar. Se abstrairmos um indivíduo de todas as regras (inventadas) morais, éticas e civis, e colocá-lo em um ambiente natural não há porque privá-lo disso. O que é um homem além de ações, pensamentos e sentimentos? Maldade? Bondade? Pelo menos para o Lucas nenhuma das duas coisas. Um ser humano é simplesmente um ser humano e o que vem depois é vaidade. Talvez nem a educação seja tão necessária. Modos? Etiquetas? Em qual momento a Mãe Natureza disse que seríamos obrigados a nos reinventar? Talvez pelo instinto de sobrevivência. O homem se reinventou para poder usufruir do mínimo de si mesmo.
A coisa mais importante que eu aprendi em meus poucos anos de vida foi o exercício de me autoanalisar. Olhar para o meu interior. Não que isso seja algo novo. Todo mundo faz isso. A diferença está no modo como isso é feito. Para algumas pessoas olhar para dentro de si acaba por trazer mais malefícios do que benefícios. A segunda coisa mais importante que eu aprendi, e que está diretamente ligada à primeira, é a de me conhecer e me aceitar. Ser compreensível comigo mesmo. Muita das vezes nós somos intolerantes conosco. Mais importante que conhecer nossas qualidades é reconhecer nossos defeitos. É a partir daí que vem o crescimento. Mas devemos nos atentar. Reconhecer nossos defeitos não é a mesma coisa que se conformar e esmorecer. Travar! Eles existem para que saibamos que somos humanos. Que apesar de termos nossa centelha divina bem lá no fundo de nosso ser ainda sim somos de carne e osso. São eles que nos ajudam a aprender e evoluir. São os defeitos que mais nos ensinam.
Uma pessoa que consegue fazer isso tem o espírito livre. É liberta. Afasta-se dos preconceitos. Torna-se suave. Adquire sabedoria. “Alça voos no mar azul do vento e veleja”. Esse tipo de pessoa não precisa de leis e muito menos de regras. Reconhecer-se é um passo fundamental para reconhecer e compreender o outro. Seu semelhante é tão de carne e osso quanto você e igualmente suscetível à natureza. Fazer escolhas é um ato racional. Você mede e pondera antes de fazê-las. E apesar de essa capacidade ser igual a todos isso não significa que as escolhas sejam as mesmas. Escolher é algo comum a todos, mas o modo de escolher não. Isso é fruto de nossos sentimentos. É fruto de nosso modo de ser e até mesmo do modo de vida que tivemos. Aí eu coloco a questão do “por quê?”. Você já parou para pensar que tudo hoje exige uma justificativa? Tudo tem de ter uma “motivação especial.” Quanta pobreza de espírito. Gostar de algo não exige explicação lógica. Contrariando o que a maioria reproduz eu digo: porque sim é resposta!
Diga-me, você sabe explicar logicamente porque você gosta de uma cor, de um determinado som ou de uma pessoa? Chegamos ao cúmulo de ter que explicar detalhada e organizadamente porque gostamos de uma pessoa, elencando qualidades e tudo mais. Quando nós gostamos de algo não precisamos explicar. Gostamos e pronto! Nosso corpo é preparado para isso. Nos atraímos por algo graças a essas forças invisíveis que nos circundam. Olhar, ouvir, e tocar. Quer coisa tão implícita e embricada? Pobre de quem se vê obrigado a transformar tudo em ciência. É impossível aproveitar as sensações racionalizando tudo, tudo, tudo e tudo! O idealismo toma conta e a pessoa está sempre no passado e no futuro. Esquece completamente do presente. Goste apenas, isso já basta. Na verdade só precisamos disso. Como disseram os Beatles: “All you need is Love!”. O que vem depois é mera vaidade.
Eu gosto de verde e isso não se explica. Gosto do cheiro de uma roupa nova, de tocar um instrumento qualquer, de ficar vendo os pedreiros trabalhando e levantando uma obra, gosto de ver meu pai falando no telefone e dirigindo, gosto de quando minha mãe se senta no sofá da sala e compartilha do que eu estou assistindo na televisão, gosto quando meu irmão solta uma gargalhada, quando minha irmã me faz uma pergunta difícil, quando meu avô resmunga de algo, quando minha namorada faz expressões com o rosto para demonstrar suas reações aos absurdos que eu falo, gosto de ver um sorriso no rosto dos meus amigos quando eu estou por perto, de esquecer-me de tudo lendo um livro, de me emocionar ouvindo um álbum de uma das minhas bandas preferidas, de rabiscar coisas sem nexo no papel, prefiro o lápis do que a caneta, gosto de falar em espanhol quando estou embriagado, sou apaixonado por Rock Progressivo, mas só escuto Música Latina enquanto arrumo a casa, gosto de ficar admirando a obra Le Grenoiller (1869) de Claude Monet desde que eu era criança...


Le Grenoiller - Claude Monet 

Tudo isso eu gosto e nada disso tem explicação ou motivo. Não serei ecologista por gostar de verde, não serei engenheiro civil por gostar de ver o trabalho dos pedreiros e nem estilista por gostar do cheiro de roupa nova. Simplesmente amo essas coisas. “Simplesmente eu gosto das coisas como elas são, sem segredos, mistérios, falsidade e ambição”. Fazendo isso eu aprendo a não tentar mudar o gosto das pessoas. Isso é algo que não se aprende da noite para o dia, pois é um exercício minucioso. Crítica sempre haverá, é gosto. Agora reconhecer o outro como igualmente importante por suas escolhas é um grande passo. É bonito admirar o diferente. Gostar de ver os outros felizes com suas escolhas que são completamente diferentes das minhas. Serve-me de terapia. Na verdade isso só é possível porque eu já sou feliz comigo mesmo e com as coisas que me agradam. Sei aproveitar.
Não quero ser moralista dizendo que “devemos respeitar ao próximo”. O que quero alertar é que quando menosprezamos alguém por suas escolhas só estamos fazendo mal a nós mesmos. Perdemos o tempo em que deveríamos estar usufruindo das coisas que nos agradam tentando provar que o outro está errado. Provar que “nós fizemos a escolha correta”. Ou pior, “que o nosso é melhor”. Triste situação. O mundo é tão grande e tão repleto de belezas... Para que eu vou me preocupar com aquilo que o outro escolheu para se sentir feliz. Pobreza de espírito. O que faz as coisas bonitas são as diferenças. Imagine você se todas as plantas tivessem a mesma tonalidade de verde ou se o mar fosse completamente azul? Tudo seria simplório e desinteressante. Eu encontrei a formula mágica de viver: Simplesmente ser feliz! Essa música traduz bem isso: https://www.youtube.com/watch?v=TiC_ixRVI6k



FIM! Se gostou me segue!