quarta-feira, janeiro 30, 2013


QUEM SOU EU?

Todas as manhãs eu te acordo. Desdenho do seu sono! Faço você se levantar da cama sem nenhuma piedade. Obrigo-te a despertar na marra! Você corre para o espelho do banheiro e lá estou eu te circulando, lá estou eu te olhando no fundo dos olhos, te julgando, te apressando, te mostrando as minhas marcas, te causando desespero e angústia.
Você se senta à mesa para se alimentar e eu me sento ao seu lado e esfrio o seu café. E como se não bastasse o aspecto ruim que ele toma logo eu vou te puxando. O café frio ficou para trás. Às vezes nem o pão eu deixo você comer, mas problema. Eu estou no controle. Vou te empurrando pelas costas. Não tenho pena de você.
Logo você está no seu banho, mas eu o torno frenético. Desesperado. Desleixado! Eu te puxo todo molhado para fora de seu banheiro. Faço com que você escorregue, tropece no brinquedo de seu filho, derrube o porta-retratos de sua esposa enquanto você tenta se vestir sem ao menos ter se secado adequadamente.
Você aperta o nó da gravata. Está pronto! Mas eu te mostro o seu ônibus indo embora pela janela de sua casa. Você corre. Corre depressa. O ônibus se foi. Você tem seu primeiro momento de fúria em seu breve dia. E eu estou ao seu lado para aumentar seu sofrimento. Você espera o próximo ônibus. Ele chega lotado. O dia está quente e você engravatado.
Sua condução para e você fica indignado. Ela não pode parar. E eu te apoio nisso. Você olha para fora e vê o engarrafamento, as buzinas e o tumulto. Pensa em sair correndo. Se remexe, se coça, suspira e desiste. É insensato. Mas eu estou ao seu lado, cochichando em seu ouvido. Você suspira mais. O dia mal começou e você já está estressado.
Enfim, o ônibus volta a andar e o transito flui. E eu? É claro, chacoalho seus ombros. Não é suficiente. Mais depressa, mais depressa! Você chega correndo em seu trabalho todo desajeitado. Te dou um alívio. Você cumpriu com sua obrigação. Mas seu patrão lhe recebe com um sorriso macabro no rosto, tão macabro quanto o meu. Ele lhe entrega uma pilha de papéis. Um desejo de bom dia! Um bom dia preso a papéis. E preso a mim.
Estou com minhas mãos agarradas a sua cabeça. Aperto-as cada vez mais. Te chacoalho outra vez. “Vamos, você tem trabalho a fazer!”. Lá fora o sol atinge seu auge na abóboda do céu. E cá está você com os cabelos desgrenhados e com os miolos fervendo. Debruçado sobre a pilha de papéis. “Bom dia!”. E eu? Te cutuco a costela e dou petelecos em sua orelha. Rindo da sua cara de desespero. O sol está se pondo. Sua respiração está ofegante, seu corpo está num estado deplorável. Você está com fome. Você não pensa em nada. Só em mim e na pilha de papéis.
O sol se pôs. Não foi um bom dia. Você se levanta. Está indo para casa. Mas antes seu patrão te aborda. “Amanhã será um dia muito melhor e mais produtivo que esse.” Você dá um sorriso amarelo e cansado. Mas é a realidade.
Você refaz o trajeto para casa. Agora você volta a pensar, mas nada em sua cabeça me escapa. Eu baguncei sua mente. Você pensa em mim. Somente. E sabe o quanto eu te escravizo. Te domino. Você está em minhas mãos. Eu sou o maestro da sua vida. Seu Deus. Seu guia. Seu demônio. Você não vive sem mim. Estou no seu pulso. Estou em seu bolso. Estou na parede de sua casa e de seu trabalho. Na tela de seu computador. Dentro de sua cabeça.

Eu sou o Tempo!

FIM.

Se gostou me segue e compartilhe!