Relato extraído de um diário perdido, no qual não revelarei o nome do autor, para buscar preservar a mensagem entrelaçada no mais profundo de sua narração...
...
A
noite parecia muito mais tranqüila que o habitual. No caminho entre o trabalho
e minha casa, pouco vi além de ruas e casas que aparentavam não haver
residentes ou há muito já adormeciam. Raríssimos foram os momentos em meu
percurso em que dividi o asfalto com algum outro carro. O céu naquela noite
estava incrivelmente estrelado, não havia sinal algum de nuvens e a lua
brilhava gloriosa.
Ao
sair de meu trabalho, tive uma estranha sensação de liberdade. Na verdade, não
é nada anormal se sentir livre depois de um cansativo dia de trabalho.
Entretanto, naquela noite, me sentia como se TODO O PESO DO UNIVERSO tivesse se
esvaído no ar, deixando meu corpo em paz. Tinha a sensação de ser um daqueles
aventureiros das eras antigas, que desbravavam os confins do mundo em busca de
novidade. Assim eu fui para a casa.
Ao
sair do carro, minha pele experimentou a mais suave das brisas da noite. É como
se mãe lua me acariciasse, querendo me reconfortar. Sempre fui um cara muito
paciente, que gostava de gozar dos mais singelos detalhes, amante da natureza e
insatisfeito com tudo que era superficial. Sempre esperei, e assim alcançava
meus objetivos. Uma vez, quando era adolescente, escutei em uma entrevista na
TV, uma banda fazer a seguinte declaração: "A velocidade do caminhar, é
resultado da quantidade de passos certos que você dá na vida. Quanto mais
rápido você caminha para determinadas coisas, mais de formiguinha seus passos
se tornam."
Guardei
aquilo para sempre! Já havia conquistado muitas coisas, porém nunca estava satisfeito.
Não que isso fosse algo ruim e que me corroia por dentro, isso é coisa para
materialistas. Pelo contrário, era isso que me movia como ser humano, a busca
eterna pelo mais, pelo saber, pelo crescer. Diferentemente dos muitos de meus
colegas de trabalho, eu não queria alcançar um status, ou uma posição onde o
retorno financeiro seria consideravelmente favorável. Era um desejo simples, de
mostrar para eu mesmo que estava aprendendo e progredindo no que fazia. Não era
uma simples escalada profissional, era uma evolução.
Ao
chegar a casa, saí do carro e tirei as chaves de dentro de minha maleta de
trabalho. Inconscientemente abri a porta e entrei. Após fechar a porta, liguei
a luz de minha sala, coloquei a maleta sobre uma das cadeiras da mesa, e sem
exitar fui subindo rumo ao meu quarto, que ficava no segundo piso da casa.
Preparei-me para o banho...
...
Após
sair do banheiro, me sentia tão satisfeito, sem saber o porquê, que nada mais
almejava além de dormir. Desliguei as luzes e tranqüilo, deitei em minha cama.
Adorava a calmaria da noite. Deitado, tinha a sensação de que não havia mais
nada no mundo, a não ser o meu quarto. Era como se todas as mega-cidades
poluídas do mundo não existissem, e a paisagem lá fora voltasse a ter a sua
forma primitiva, natural. Meus olhos começaram a pesar e...
...
Minha
vista estava completamente embaçada e uma luz forte quase me cegava por
completo. Tudo era confusão em minha mente. Tive a sensação de ter sido seqüestrado,
amarado, vendado, jogado dentro de um furgão e ter despertado em um lugar que
não sabia onde era. Aos poucos minha visão ia voltando ao seu estado normal.
Percebi que estava deitado não mais em minha cama, mas em um gramado tão fofo
quanto. Sentei-me. Não estava entendendo nada. Parecia que estava de ressaca
depois esgotar uma garrafa inteira de Red Label. Foi quando eu voltei ao normal
e um vento fresco me envolveu.
Percebi
que estava no meio de um jardim. Mas não parecia um jardim qualquer. Era uma
espécie de ''praça-jardim''. Não havia canteiros, mas sim calçadas onde
tranquilamente residiam belíssimas flores e árvores de no máximo dois metros,
tão frágeis que seus caules eram mais finos que meu braço. Percebi que vestia
uma roupa muito fina, semelhante aquelas utilizadas na Índia.
Fiquei
de pé a modo de verificar melhor o lugar onde estava. Naquele momento,
incrivelmente não parecia estar desesperado por não estar em meu quarto deitado
em minha cama. Estranhamente, me sentia em casa. Aos poucos foi ficando mais
claro o que observava e mais detalhes surgiam. Percebi que a ''praça-jardim''
simulava uma floresta em miniatura com pequenas, porém complexas, ruelas que
eram delineadas pelas calçadas de flores.
Tentei
aguçar mais minha visão e me assustei. O jardim se situava em uma espécie de
platô, semelhante aqueles de ruínas maias, porém muito mais alto. E mais
assustador que isso, era A FLORESTA ao redor do platô. O jardim era suspenso em
meio a uma floresta enorme, muito maior do que qualquer outra que conhecia, a
ponto de haver árvores que se estendiam a alturas bem superiores a do jardim.
Lá embaixo, bem lá embaixo mesmo, corria um poderoso e caudaloso rio dourado formado a partir de uma cachoeira,
que rumava tão longe rumo ao horizonte, que se perdia em meio as árvores a
distância. Era uma espécie de jardim maia-babilônico bem no meio de uma
floresta indescritível. Talvez, nem com mil livros seria capaz de fazer uma
descrição fiel do que via.
Voltei
minha visão para o jardim, pequenos animais, como esquilos, coelhos, gatos e
belos passarinhos preenchiam o lugar de vida. Algumas estátuas de seres de
quatro braços surgiam em meio às flores. Seriam as divindades hindus? Percebi
que ao redor do jardim havia duas paredes. O jardim visto de cima tinha uma
forma retangular (30 metros de lado e 15 de fundo) e tais paredes se erguiam a
seis metros de altura em seus lados menores. Na parede norte, que tinha o
formato de uma casa, assim como a outra, havia uma grande porta, que estava
fechada. Assim como a parede, a porta também era feita de madeira. A parede
oposta tinha o mesmo tamanho, com a diferença de estar TODA ornamentada de
flores e não haver nem porta nem janela. O estranho é que tais paredes pareciam
não ter serventia, já que as laterais de lado maior do jardim eram abertas. Uma
madeira ligava as duas paredes pelo alto, onde pendiam luminárias.
O
sol que iluminava o jardim era um sol das sete da manhã, e não parecia mudar. O
clima era tão fresco, que tinha a sensação de estar sempre ''de banho tomado''.
Aos poucos minha mente ia se adaptando ao que via, como se despertasse de um
transe, foi então que avistei as primeiras pessoas. Na verdade, quero dizer,
mulheres. Vi três belas jovens vestindo cada uma, uma roupa de cor diferente.
Azul celeste, verde e vermelho. Elas olharam para mim sorrindo, e mais nada
fizeram. Pareciam inertes, como se fossem simples planos de fundo do que via.
Caminhei
pelas ruelas do jardim e percebi enquanto pegava algumas romãs para comer que a
gravidade onde estava era muito mais fraca. Porém, isso parecia não me
assustar. Era como se tudo aquilo, que era novo, também fosse familiar. Era
como estar em um lugar onde tudo era paz. E nada era melhor. E foi caminhando
pelas ruelas do jardim, que descobri que no canto sudoeste havia uma casa de
madeira. Havia muitos jarros de flores, pássaros cantando nas
telhas. Então, resolvi entrar. Na porta da casa encontrei um senhor, que
parecia ser chinês, e tinha uma expressão de seriedade, digna dos mestres
orientais, sentado em uma cadeira. Ele olhou para mim. Pela primeira vez
naquele lugar tive a sensação de não estar sozinho. Ele me olhava, como que
esperasse alguma atitude. Foi então, que ele me falou:
-
Não entre aí. Disse ele sem mudar sua expressão.
Eu
não respondi. Simplesmente olhei para ele e assenti. Depois entrei. Aconteceu
que ao colocar meus pés dentro da casa, minha cabeça se encheu de uma energia
muito densa. Senti como se me enchesse de sabedoria. Porém, isso quase me fez
cair no chão. Meu corpo parecia não estar preparado para aquilo. Foi então que
dei mais alguns passos casa adentro. Fiquei em transe como se estivesse embriagado. Tudo girava em minha visão. No centro da casa
encontrei uma porta que não hesitei em abrir e entrar. Encontrei uma escada que
descia para uma escuridão. Desci. Ao chegar ao nível inferior, luzes se
acenderam e eu encontrei mais uma porta, que entrei. Outra escada, agora para
cima. Outra porta, outra escada, outra porta, outra escada...
Foi
quando senti algo MUITO estranho. Minha visão escureceu. Senti-me sendo puxado
por uma força poderosa, e quando me vi, estava caído mais uma vez no meio do
jardim. Havia anoitecido e as luminárias estavam acesas. Olhei para o
horizonte, para a floresta na noite e percebi que havia vários pontos acesos.
Eram outros jardins semelhantes ao que estava. Senti uma agitação no ar.
Parecia que algo estava prestes a acontecer. Vários pássaros e abelhas voavam
por cima do jardim. Havia várias mulheres enfileiradas próximas a parede sul de
flores, entoando um cântico que eu não compreendia.
Eis
que o senhor oriental apareceu ao meu lado. Tocou-me no ombro e disse:
-
Você tem que tomar uma decisão. Disse o homem esperando que eu fosse imediato.
Ouvindo
isso, parecia que não mais controlava minhas ações. Tudo era caótico.
Levantei-me e corri rumo à parede norte. Olhei para a grande porta e gritei:
-
Abra.
Ela
começou a se abrir. As mulheres que antes cantavam, agora gritavam em tom de
comemoração. Os pássaros e abelhas que sobrevoavam o jardim começaram a se
retirar pela porta em uma velocidade aterrorizante. Foi então que...
...
Abri
os olhos e percebi que já havia amanhecido.
LUCAS NOGUEIRA GARCIA
OBRIGADO
PELA LEITURA. SE GOSTAR ME SIGA.
Depois de dormir todos os dias, conseguir voltar para o mundo é sempre uma aventura .. Tresloucada, ofegante mais que vale cada segundo!!
ResponderExcluirUma das melhores coisas que tem é poder sonhar livremente. É uma aventura mesmo. Espero poder revelar mais acerca do mundo astral que visito as vezes.
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