O MUNDO NOVO
No
princípio tudo era um grande vazio. O “nada” era tão predominante que causava
inveja aos grandes desertos e as mais profundas fossas abissais do leito
oceânico. Não havia pobreza, pois até para haver isso era necessário haver “algo”.
Contudo, todo esse vácuo espiritual, ainda assim, tinha seu lado aproveitável. A
tela branca.
A
descoberta da aquarela é um acontecimento sem par. É como ter acesso a todas as
possibilidades, todos os caminhos, todas as experiências. É um multicolorido de
abstrações prováveis. É um cometa que viaja pelo universo contemplando o brilho
de todas as estrelas ao mesmo tempo. É também a criança que pula na poça de
lama. E em toda essa embriaguês há de ter uma grande consequência. E há.
O
choque elétrico faz reverberar dos nervos aos ossos, e quanto mais se avança
maior é a intensidade com que a energia frita e torra a carne. Nesse belo
quadro não há formas definidas. O que há é um grande emaranhado de filetes
tingidos das mais impensáveis cores. E esse caos, eternizado na tela, vai se
sobrepondo até o dia em que se há o costume. Tudo é um caos, a ordem floresce
do costume a ele. Nada se perde tudo se transforma. A ordem se sobrepõe ao caos em uma simbiose, mas ambos sempre estarão ali como entidades de personalidade
própria, distintas.
Passado
o baque dos descobrimentos entram em cena as ideias independentes. Tudo é
questionamento. Nada faz sentido. E quando faz é verdade absoluta. Esse é o
espírito jovem, feroz, ávido por descobertas. Entretanto, cada novidade defronta-se
com o bruto preconceito. É a vontade de se autoafirmar. É quando é preciso ter
razão. Mas aí o aparente baluarte se revela o mais frágil castelo de cartas.
Tudo é desabamento. Tudo é pranto. Os escombros se espalham por toda parte.
Tudo é feio. Tudo é desprezível. O ódio se acentua. O caos retorna.
Mas
os anjos existem? Sim, eles estão ao nosso lado todos os dias. Pobre de quem
não os reconhece. Sua luz nos mostra o caminho onde não há indiferença, cinismo,
hipocrisia, idiotice, bestialidade e ignorância. O sorriso volta ao rosto sem
que se perceba. Uma alegria toma conta e com o peito queimando de entusiasmo
limpa-se tudo que não presta e é prejudicial. Vai tudo para a vala. Toda erva
daninha é cortada. O jardim finalmente está belo e repleto de flores, todas
selecionadas. Esplendorosas borboletas trazem consigo um colorido harmônico.
Depois
de tantas mãos de tinta, depois de se esgotar e levar a exaustão a pobre
aquarela, pode-se vislumbrar a tão esperada paisagem. No início tudo era o vazio,
depois tudo era o caos. Dele nasceram os primeiros esboços do bem-estar. E
quando as coisas pareciam se encaminhar para uma conclusão satisfatória o mundo
mergulhou na obscuridade. E tudo isso se mostrou necessário. Afinal, é possível
pintar um quadro sem que haja sombras? É o contraste do claro-escuro que
faz uma obra ganhar vida. Luz e sombra. É o incremento que faltava. Assim como
que para haver “algo” é necessário que haja “nada” também deve existir tristeza
para que saibamos o real valor da alegria.
O
mundo novo surgiu. E como o sol que nasce no leste ele emergiu de todas essas
sobreposições, de todo esse colorido. Nada se perde tudo se transforma. Não se
escondem as imagens, elas apenas se sobrepõem. E no fim algo novo e original
aparece. Agora esse mundo é uma obra-prima. Contrastes. Imperfeições. Imprecisões.
Como é admirável. É belo, mas feio. É harmônico, mas caótico. E quando eu
cultivo o jardim só planto as flores selecionadas. Sou indiferente ao que não
me serve. O lugar da flor estragada é na fossa, os anjos sabem bem!
FIM
SIGA-ME
Mas os anjos existem? Sim, eles estão ao nosso lado todos os dias.
ResponderExcluirSe considere um deles, Amanda!!
ExcluirMuito bom!!!!!!Amei!!!!!
ResponderExcluirObrigado, Lubeli!
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